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Uma história de outros tempos
08/08/15, 07h16
Mas ninguém acreditou que ela caiu na escada.
– Como isso aconteceu?
– Por que você concedeu um murro do namorado?
Ela não se importou e a todos perdoou, mas a raiva lhe invadiu pela antiga companheira. Aquela em que pulava de dois em dois os degraus para chegar logo em casa quando vinha da escola, e beijar a mamãe, e abraçar o papai.
O roxo da testa invadiu o olho esquerdo, inundou a face branca, parecendo tatuagem.
Ela lembrou dos desenhos que traçou pelos cantos da escada; eram doze os degraus, eram doze vias sacras, que do alto escorregou pela pressa, pelo amor de encontrar o namorado.
E aquela, a quem não mais desenhava, a quem não mais declarava o carinho de outros tempos, puxou o tapete, fez escorregar a sandália de Manoela que saiu rolando, rolando e caiu no chão.
O amor de Laura em Ícaro
28/08/15, 05h51
Laura viu nele aparecer o pior do jeito seu.
– Por que aos outros expor o que é grão, semente, amor?
Mas em si mesma encontrou o pior do jeito seu.
E aos poucos, lentamente, foi dele se despedindo, da ilusão se afastando, com a vaidade fez as pazes e desceu da lua em direção a Creta para com Ícaro viver.
As estrelas são feitas da mesma matéria dos sonhos
01/09/15, 05h56
De um pedaço de sonho, Lúcia teceu a eternidade. Ela foi caminhando devagarinho até encontrar o outro.
Paulo vivia com a solidão, e tão acostumado era que pareciam amigos de infância. Quando viu Lúcia se aproximar, se afastou da antiga amiga e fez as pazes com o querer.
Navegaram os mesmos mares, subiram as colinas mais íngremes, os dois amantes, os dois amores que habitavam dois corpos e ao mesmo tempo um.
E de tanto parecerem duas estrelas, alguém, mais forte que a neve, mais forte que o sol, levou os corpos para o céu, e começou a criação.
A estória de uma defesa
17/09/15, 16h30
Anabela cruzou o caminho mais estreito e nem percebeu o buraco da fechadura, a porta que atravessou, do passado para o futuro.
Ela se encantou com o belo dos olhos dele, que transpareciam a juventude cintilante de um menino azul.
Ele lhe ofereceu uma flor, era um simples girassol, que ao seu redor girou e girou, e desembocou nos lábios do primeiro beijo de amor-próprio de Anabela.
Quando Clara encontrou Júlia
23/09/15, 07h45
– Deus habita todas as minhas células – disse Clara a uma amiga.
Ele fez soar o tom mais límpido do oceano na concha do meu ouvido.
Ontem o texto veio por inteiro à minha mente, veio cheirando a jasmim.
Então, as árvores eram mais verdes, as nuvens embranquecendo, o céu transparente de um azul assim do jeito de uma palavra que se fez carne e habitou entre nós.
E eu vi que era bom.
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* Textos extraídos de Contos para uma Escrita Criativa, de Patricia Tenório: início em Agosto/2015, em processo de construção…
** Patricia Gonçalves Tenório é escritora de poemas, contos e romances desde 2004, tem 8 livros publicados e acaba de defender (17/09/2015) a dissertação de Mestrado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco, linha de pesquisa Intersemiose, O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde: um romance indicial, agostiniano e prefigural, sob a orientação da Prof. Dra. Maria do Carmo de Siqueira Nino.