Cynthia Contos Ins. Encontros e desencontros

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Aquele homem havia perdido seus olhos.
Um homem tão interessante! Vivia de óculos escuros como um cego.
Ele podia ver a silhueta de todas as coisas, entretanto, não conseguia enxergar nada com nitidez, muito menos outros olhos.
Apesar de procurar muito os motivos deste seu problema que, com os anos, se agravava mais e mais, nenhum médico conseguiu lhe explicar ou encontrar qualquer causa orgânica para o seu mal.
Procurou em todos os lugares uma resposta, um ungüento, um conforto, sua cura e nada.
Seus olhos vagavam por sombras, apagados, vazios.
E quanto mais o tempo passava mais ele se escondia e encontrava nos versos o consolo do seu passado.
No outro lado do mundo uma mulher de beijos, vazia.
Seus lábios ressequidos eram marca indelével em seu rosto. Apenas seus olhos vivos, brilhantes e expressivos atenuavam a dor e a solidão. E quanto mais a vida passava em ausentes abraços e beijos e carinhos, mais ela se escondia e encontrava em seus versos o conforto de um futuro sonhado.
Mas, por uma destas contingências da vida, um dia seus versos foram conhecidos pelo homem cego que, encantado, fez chegar até a mulher (para que ela o conhecesse) o seu poema mais bonito.
E, assim, trocaram versos, rimas, desejos, quereres. Compartilharam momentos, olhares e beijos.
Fica evidente que os olhos do homem se abriram e, que os lábios da mulher floriram.
Porém ainda havia algo errado, o quê?
Cada um vivia em um extremo do mundo!
Foi então que tiveram a idéia de se encontrar no meio do mundo.
Marcaram uma data, uma hora e um local preciso.
Deste momento em diante, uma ansiedade louca tomou conta dos dois amantes e os versos se tornaram loucos, dementes de uma promessa de amor ao alcance dos olhos, das bocas, das peles agora quentes e ardidas.
No dia marcado, o homem caminha atravessando o jardim.
Do outro lado, a mulher caminha atravessando o mesmo jardim.
Os dois se vêem e caminham mais rápido passando um pelo outro, um através do outro…
Ao se voltar sem entender muito bem o que aconteceu, o homem vê apenas sombras e dos olhos da mulher um longo pranto lava seus lábios secos.

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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