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O ônibus corria
sem parar
e os automóveis
em louca pressa
mostravam ao sol
a correria da cidade
sem parar.
Na calçada
dois meninos
dormiam
(e eram brancos,
o que dizer dos negros?)
indiferentes
jogados no chão
em frente da loja
fechada,
na doce cama
de papelão.
A luz do dia
servia
pra deixar ver:
encolhidos,
em posição de feto
nasciam (ou morriam?).
Ali tão perto
a nossa frente
o povo impotente,
ah, que vontade
de tomá-los
nos braços,
carregá-los pra casa!
São tantos e tantas,
gerados de tantos séculos,
nascidos/morridos
sem conta!
Até quando?
E a cidade continua
em frenética corrida,
não há tempo a perder,
não há como parar
para apanhar
os inocentes
caídos
desta guerra terrível
de batalhas temíveis
em nossas portas.
E as crianças?
Por enquanto a dormir
indiferentes ao sol,
à mostra,
expostas à vida
expostas à morte,
vítimas
da covardia
de todos e todas nós.
Recife, 12 de setembro de 2007
Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB
Obs: Imagem enviada pelo autor.