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As lágrimas caem, mas as letras não.
As lágrimas conseguem transbordar e rolar rosto abaixo, mas as letras parecem agarradas à caneta, teimando em não cair no papel.
As lágrimas não.
Elas caem uma por uma. Uma delas pinga no papel. A outra, percorre todo o caminho entre a ponte do nariz e aquela pontinha que algumas pessoas têm demais e outras de menos. A outra lágrima até parece fazer força para não cair, mas despenca pesada dos cílios se juntando às outras em pequenas poças no papel pautado.
As lágrimas não são como as letras. Elas não se alinham uma atrás das outras em um risco, respeitando parágrafos e margens. Se juntam em poças, caindo cada qual em seu próprio espaço, criando um novo propósito para a folha em branco.
Onde uma lágrima cai, a letra não corre.
As poças de lágrimas vão se juntando e penetrando no papel, como tinta alguma poderia fazer, até que ele rasga. Ele fura. As lágrimas podem fazer isso; elas furam.
As letras não.
O papel rasgado fica manchado. Não é sangue, e nem tinta, mas mancha da mesma forma. Depois que seca, todos podemos saber que ali caiu uma lágrima. Que ali o fluxo de emoções era tão forte, tão constante, tão inexplicavelmente envolvente que nenhuma letra ousou cair no papel.
Nenhuma letra, depois de tantos sentimentos, depois de tanto pensar, de tanto sentir, de tantos sabores e dissabores ousou cair no papel- só as lágrimas.
Depois que cada lágrima traçou seu caminho marcando um rosto, marcando um papel, que cada uma se juntou, molhou, rasgou e manchou o que precisava ser dito finalmente o foi.
Que as lágrimas caem. Que as lágrimas falam. As letras não.