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Maria Evanilde era morena, tinha o corpo de moça, a cintura fina, as almas bem delineadas, detalhes que a gente, menino ainda, à época, não valorizava. Seu olhar era um misto de inocência e de medo, quando sentia, na sabatina, que a palmatória de d. Maria de Branquinha se constituía numa ameaça presente e  imediata. Já Cleonair era alta, calada, galega, cabelos grandes e encaracolados, o nariz adequado ao rosto. No conceito de hoje, dir-se-ia bonita, sobretudo porque o corpo era harmonioso. Não me lembro dela apanhando na escola. De comum nas duas, um dado interessante: nenhuma foi para o ginásio. Encerraram ali os estudos. Sala de aula, nunca mais. Do que eu sei, naturalmente.

Findo o curso  primário, não tornei a ver Maria Evanilde, nem notícias procurei, nem me deram. Não sabia, ao menos, em que rua morava, nem quem eram os pais. Cleonair, ao que parece, morava nas imediações do ginásio. Ainda vi, uma única vez, ao lado da mãe, também alta como ela, numa procissão. Só. Faço idéia que as duas casaram já há muitas décadas e hoje, no mínimo, devem ser simpáticas e felizes avós. Das lembranças, o nome, algumas cenas na escola que permanecem nítidas, ficando o sobrenome completamente soterrado. O sobrenome e o futuro vivido, ressalte-se.

O que me atropela a mente é o permanente afastamento do colega, não só das duas declinadas,  depois de encerrado o curso, a tomar cada um rumo totalmente diferente dos demais, deixando  bem claro que a cada um é reservada sua própria estrada para percorrer. É o nunca mais ver, o perder de vista, o ficar unicamente atrelado a nebulosos fatos de uma época que já passou, lembranças teimosas que o vento ainda não apagou de vez, a aclamar que aquele tempo, o do primário, ainda não passou totalmente, e nem se dissolverá enquanto o nome de alguns colegas permanecer aceso. Pena que a ruptura tivesse sido completa, e, hoje, quando o nome de um deles sobe à tona, como o de Maria Evanilde e o de Cleonair, a gente não sabe nem em que porta se deve bater para pedir um mínimo de notícias, se contentando apenas com as poucas lembranças que a memória conservou. Daí solicitar informações, a quem delas possa ter – Correio de Sergipe, 15 de agosto de 2015

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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.
Obs: Publicado no Correio de Sergipe

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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