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Deixou Neruda, Marquez, Lhosa nos espaços da estante, no sofá, na cabeceira da cama. Buarque ficou sobre o som, próximo a Jobim e o Veloso. Acordes silenciados. A xícara de café sobre a mesa ainda com os resquícios da noite anterior. A guimba no cinzeiro com tantas outras abandonadas no momento de tensão na madrugada longa.
Debaixo da mesa da sala anotações, idéias desconexas, planos mirabolantes abandonadas na manhã seguinte. A roupa ainda no varal, úmida da neblina. Os carros passavam sete metros abaixo, rápidos, estressados para um início de dia. A vasilha do bichano vazia. Fred talvez estivesse com fome. A cama com a colcha estampada intocada. As janelas do quarto pouco deixavam transpassar do mundo lá fora.
Os cremes, os sabonetes, os perfumes sobre a pia do banheiro. Tudo ainda estava lá. O sapato vermelho, a sandália de tirinha, esquecidas num canto do quarto. Só a pintura dela nua não estava mais na parede. Poucas roupas ainda permaneciam no armário embutido, mas já não era como antes. O vaso com a orquídea sobre o criado mudo não dava certeza de nada, de que ela ainda estivesse ali.
O pinga-pinga da torneira de prata, o cheiro de óleo floral de algum lugar distante, só deixava o ambiente atordoante. Pior que isso só as fotos. As fotos no corredor, na sala, na geladeira da cozinha, na estante, na penteadeira, sobre as mesas, na tela do computador… Por todos os lados. Ela já não estava ali. A casa estava vazia. Restou a ele as lembranças…