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No princípio era para ser um clube de suicidas. Se chegava, cadastrava, se pulava do décimo terceiro andar, no décimo terceiro prédio, da Avenida Treze de Maio.
Ou nos degraus da escadaria do Cristo Redentor, na frente dos trilhos, o bondinho da floresta, na Tijuca, Santa Tereza, no Palácio do Catete onde Getúlio se matou.
Mas se José chegasse, cadastrasse e pulasse tudo assim continuaria, tudo assim permanecia um eterno se matar. Porque José chegou com sonhos, desses que não se vendem, se dão. Desses que não se têm, se imaginam. E alguns dos suicidas, ao invés de se jogar, iam lá, bem de mansinho, ouvir os sonhos de José, os sonhos que ele não sabia escrever, só falar; não sabia o porquê, só o lembrar.
E não esquecia, nenhum dos sonhos se esvaía de sua mente criativa. Que se assustava às vezes de tanto muito pensar, por achar tão reais os personagens, senhores de si e dele mesmo. O mandavam caminhar todos os dias do Flamengo até a Urca, dar comida aos macaquinhos e voltar para o seu lar. Não tinha mais o emprego, pois da noite eles fugiam, os personagens, para no dia atrapalhar, com sono e cansaço o emprego do José.
Tinha visto de um tudo: cachorro mandando em dono e velhinho abandonado, sentado na barraquinha de coco para ao neto obedecer, porque iam aparecer uns amigos em sua casa.
– Vai passear, avô! Que mico eu ter de ter um velho em minha casa…
E José viu o velhinho, sentado, abandonado na barraquinha de coco.
Mas um menino, pixotinho, bonitinho, veio em sua direção. Alisou o rosto, enrugado, tão cansado, de falta de amor, respeito, e também compreensão. O menino pequenino, como se adivinhando, como se acarinhando o rosto do velhinho e de José, soltou umas palavrinhas, sem sentido e ao mesmo tempo tudo se esclareceu, tudo então se converteu num alegre Carnaval.
– O que perde, grande é. O último será o primeiro, vovozinho e seu José. Vão contar para o mundo inteiro que o mundo continua, a vida não acabou…
… E o sonho é de quem sonha, mas também de quem acredita, e insiste, e desiste de chegar, se cadastrar, e pular do décimo terceiro prédio, da Avenida Treze de Maio, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
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* Texto publicado na Revista Oeste – RN, Setembro de 2012, Nº 16.