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Francisco de Assis,  falecido em 3 de outubro 1230, entre outros dons, celebrizou-se por seu Cântico das criaturas em que, num italiano medieval, com fortes acenos ainda latinos, tece um poema de inexcedível beleza e de louvação cristã  às criaturas, obras do “Altíssimo, onipotente e bom Senhor”:

 “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o Senhor, o irmão Sol, o qual é o dia e nos ilumina por ele. Ele é belo e com grande esplendor que de ti, Altíssimo, toma significado”. O Santo de Assis louva também a irmã Lua, as estrelas, a água, “muito útil, preciosa e casta”. Louva ainda o irmão Fogo e a “nossa irmã, a Mãe Terra, que nos sustenta e governa e produz diversos frutos com flores coloridas e erva”.

Esse canto foi classificado pela poetisa Donatella Biasutti como “o mais alto manifesto  ecológico”, apoiada por comentários de jornalistas, filósofos e pessoas católicas, judeus, muçulmanos e budistas. Uma versão do original italiano do Cântico das criaturas pode ser lida no claustro do Convento dos Capuchinhos em Maceió.

Foi haurindo à fonte franciscana que o Francisco de Roma, o Santo Padre o Papa, acaba de promulgar a “Laudato si” , que seria a primeira encícllca, propriamente sua, uma vez que a outra sobre a fé, foi escrita em parceria com o Papa emérito Bento XVI. Pela exiguidade de espaço de que disponho, limito-me a citar um texto da Opus Dei,  que nos dá  visão sintética de toda a Encíclica.

 “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão crescendo?” (n.160) pergunta o Papa Francisco. Este interrogativo é o âmago  da encíclica sobre o cuidado da casa comum da humanidade. O itinerário é tratado no n.15 e se desenvolve em seis capítulos. Da análise da situação, a  partir das  conquistas científicas hoje disponíveis (cap. 1), passa ao confronto com a Bíblia e a tradição cristã (cap.2), identificando  a raiz dos problemas (cap.3), na tecnocracia e  no excessivo fechamento autorreferencial do ser humano. No cap. 4, a encíclica propõe  uma ecologia integral, que inclua as dimensões humanas e sociais, indissoluvelmente ligadas com a questão ambiental. Nesta perspectiva, o Papa propõe empreender em todos os níveis da vida social, econômica e política, um diálogo sincero, que estruture processos de decisão transparentes (cap. 5) e, no capítulo final, conclui que nenhum projeto será eficaz, se não for animado por uma consciência responsável, sugerindo idéias para crescer nesta direção em nível educativo, espiritual, politico e religioso. O texto papal termina  com duas orações, uma oferecida à partilha com todos os que crêem em Deus Criador e Onipotente e a outra proposta  aos que professam a fé em Jesus Cristo, acompanhada pelo refrão “Laudato sí” com o qual a Encíclica se abre e se conclui.

Assim se encontram os dois Franciscos.  O do século 13, que por primeiro teve  esse nome,  dado pelo pai, em homenagem à França,  de onde ele importava ricos tecidos, que fizeram sua fortuna, afinal ,  desprezada pelo filho,  que desposara a Madame  Pobreza. E o Francisco dos nossos dias, que por primeiro tomou esse nome, como o Papa de uma Igreja da periferia, o Papa de uma Igreja que está de saída, que está a caminho ao encontro dos homens do nosso tempo.

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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