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Prestes a completar 86 anos do seu lançamento, o poema “No Meio do Caminho” de Carlos Drummond de Andrade continua fazendo muita gente tropeçar ou, ao menos, machucar o dedão do pé. Explico: é que mesmo apesar desse tempo todo, quase ninguém conseguiu decifrar o enigma drummondiano. A pedra continua lá.
Publicado originalmente na Revista de Antropofagia em 1928 e em 1930 no livro de estréia do poeta “Alguma Poesia”, o “poeminha da pedra” como ficou conhecido, provocou a cena literária da época. O texto poético originou reações extremadas, tanto de enaltecimento, quanto de repúdio. Mas os versos brancos repetidos, a concisão e a coloquialidade do poema coroou a bandeira do movimento modernista.
Toda a celeuma fez com que Drummond publicasse, em 1968, o livro “Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um Poema”, em que reuniu centenas de comentários prós e contras que fizeram a fama do citado poema. Em 2011, esse livro ganhou uma reedição organizada por Eucanaã Ferraz, e que traz as seções inéditas “Ainda a Pedra”, uma ampliação do material recolhido por Drummond, e “Biografia da Biografia”, contendo resenhas e comentários sobre o livro desde o seu lançamento.
O poema continua provocando. Por ocasião do lançamento dessa reedição, a edição de número 154 da revista Cult de fevereiro de 2011, publicou uma matéria na qual ouviu alguns premiados poetas contemporâneos brasileiros, a exemplo de Armando Freitas Filho, Fabrício Corsaletti, Fernando Paixão e Marcos Siscar. Antes, em 2008, quando das comemorações dos 80 anos de criação do poema, a articulista Cristiane Carvalho, no sítio www.digestivocultural.com.br escreveu um artigo sobre o mesmo e, ao final, indagava ao leitor qual seria o significado do poema.
Mas como já disse um autor desconhecido “o poeta é um distraído terrivelmente atento”, Drummond sabia o que estava escrevendo. Ele estava antenado ao modernismo, movimento surgido no fim do Século XIX envolvendo a literatura, a música, as artes plásticas e a arquitetura, e que se estendeu até a década de 30 do Século XX, propondo, de um lado, o rompimento com a representação figurativa (a arte como cópia da realidade) e, de outro, a busca de novas linguagens artísticas.
Assim, o gauche mineiro, utilizando-se de um novo formato poético acabou transmitindo uma mensagem tão antiga quanto o mundo. E a mensagem da esfinge denominada “No Meio do Caminho” era simplesmente, penso eu, a velha questão existencial da busca do homem pelo equilíbrio. Sim, “a pedra no meio do caminho” nada mais é do que o ponto ideal que alguns de nós deseja chegar um dia, ou seja, nem ser bom ou mau demais, nem calmo ou irado demais, enfim, o meio, o justo equilíbrio entre os extremos. Mas, ali, há sempre um obstáculo.
E o poeta, que de bobo não tinha nada, sabia que este é um ponto praticamente inalcançável, um mito. Pois, apesar de todas as facilidades produzidas por esse admirável mundo shoppingniano, que geralmente faz-nos confundir necessidades com desejos, as nossas necessidades básicas são as mesmas do surgimento do homem no planeta. É, poeta, a pedra continua lá…
Obs: Imagens enviadas pelo autor.