Ronaldo Poemas demais

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José Castello, escritor espelho e sempre inquieto, reanunciou o tempo dos poetas menores em sua coluna mensal “A Literatura na Poltrona” no Rascunho – quixote brasiliano impresso do inecessário – de janeiro último. Reanunciou porque ele próprio cita no artigo que quem preconizou a chegada dessa turba à ribalta, foi o poeta sérvio Charles Simic, ainda no final dos anos 80 do século passado.

Mas, generoso e acolhedor, Castello cita e defende os poetas que fazem seus poemas no dia-a-dia, em meio à vida cotidiana, entre afazeres profissionais e familiares, mulheres e filhos. E que sentem-se esquecidos e desprezados tendo, ao fim, apenas uma meia dúzia de leitores. Geralmente sendo esses seus parentes.

Assim, pegando carona queria tentar falar acerca de outro tipo de poeta, que surgiu com essa revolução das tecnologias da informação, e suas tantas, diversas e variadas plataformas, tendo a rede mundial de computadores como carro-chefe. Incluindo os e-books.

São aqueles que depois de uma vida inteira dedicada a uma profissão, agora posam de poetas e escritores. Enquanto durante toda a sua existência, esqueceram que a arte é parte essencial – se não, vital – da existência humana. E canais não lhes faltam. Vide a modorrenta e permissiva e perniciosa indústria de concursos literários e de antologias país adentro. Onde, além do papel aceitar tudo, com as verdinhas a tiracolo, imprime-se até o “cu da gia”, como já disse um outro poeta.

São poetas que antes foram profissionais como médicos e advogados, para ficar em dois exemplos, ou políticos de carreira, alguns vereadores, deputados e prefeitos. E agora posam de guardiões da Cultura, presidem academias literárias, organizam saraus. Mas seus versos são pobres, as suas rimas são fáceis. Não há sequer um insight, um achado poético. Metáforas? Passam longe. Três encarnações de distância para ser mais exato.

Ei-los, lançando livros com pompa e circunstância e apadrinhamentos de empresários e políticos. Claro, que atualmente o livro impresso ficou mais acessível e mais barato. Vide tantas empresas oferecendo impressão sob demanda. Enquanto na outra ponta, a da plataforma líquida de Narciso, também chamada de internet, pipocam sites, blogs, páginas literárias nas redes sociais e afins.

Sem contar que atualmente a poesia disputa com o jornalismo o lugar de serviço mais barato da história. E que atravessamos um momento singular na história humana, derivado dessa nova revolução tecnológica. Então, como já alardearam por aí, é cedo para dizer o que vai ficar – falando-se de literatura – depois que essa onda verborrágicopoética passar. É como sabiamente alertou Flávio Moreira da Costa sob o pseudônimo João do Silêncio: “a poesia não se escreve com letras. A poesia está em tudo. E este é o maior argumento contra a poesia”.

Não sabem eles – ou se esquecem – que a literatura, toda ela, deve ser feita com tripas, suor e sangue. E que a arte, como qualquer uma das profissões humanas, além do destino, da sorte e do talento, (amante ciumenta e possessiva), exige dedicação total do seu diletante.

Por fim, contrariando ambos, Simic e Castello, não existem poetas maiores e poetas menores, existem poemas bons e poemas ruins. E da lição cabralina, a maioria se agarra só na pretensa inspiração. O que sobra vagando nas resmas e resmas de papel A-4 e na tela dadivosa do word no computador, são os 90% de transpiração travestidos de vazio. Enfim, são poetas que nada têm a dizer.

Obs Imagem enviada pelo autor.

 

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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