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           Começo pelo grande herói e ídolo de sua vida: ele mesmo. Verdade. Ninguém o enche os olhos tanto quanto ele próprio. Admirador de carteirinha de suas façanhas, tornou-se delas o grande propagador, aproveitando alguém, com quem possa conversar, para cardar os fatos vividos, em conversa longa, repetida, como se fosse um discurso único, que encerrado, a máquina, automaticamente, fizesse repassar tudo outra vez, digamos, para sermos mais exatos, umas cinco vezes. E se sacrifica o tempo de quem o procura, ou se bate com ele em algum lugar, esporadicamente, é pela necessidade de ter auditório para ouvi-lo, porque, acredita-se, os de casa já estão de saco cheio, dele se escondendo ou a evitá-lo.

           Se o interlocutor tenta mudar de assunto, ele não presta nenhuma atenção, retornando ao que contava, sem poupar nenhum elogio pelo cabedal de virtudes que carrega, tornando-se anões todos aqueles que no trabalho lhe são subordinados, porque o gigante é ele, que entende de tudo, que possui argumento para tudo – assim pensa -, de modo que o importante de sua conversa, aliás, de seu monólogo, é que o assunto é ele que dita, de acordo com a real conveniência, e, nessa, não há lugar para nenhuma outra matéria, a não ser ele próprio.

           Daí todos correrem quando se encontram com ele, até os familiares, porque não há no mundo quem consiga lhe desviar o assunto, lhe contar uma piada, falar de um projeto pessoal, porque ele não se interessa, não oferecendo a menor brecha para alguém incomodá-lo com uma matéria tão insignificante, quando, em verdade, está a ressaltar suas qualidades de varão de Plutarco, último, ressalte-se, nessa terra superlotada de mediocridade e corrupção, de modo que conversar com ele, digo, de ouvi-lo, é como se fosse uma aula de heroísmo e de amor à pátria, visto que, tirando ele, ninguém mais quer nada com a Hora do Brasil, apto que se encontra a endireitar o país, se convocado para tanto for.

           Toda vez que tenho de ouvi-lo, nos seus repetecos, chego a conclusão de estar pagando uma pena. Algum crime devo ter cometido em reencarnações passadas para ter de passar pelo dissabor de aguentá-lo por tanto tempo. Ainda bem que fui feito com barro de muita paciência.

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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

 Obs: Publicado no Diario de Pernambuco

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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