deborah Isabelle

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Era um sábado à noite, Isabelle havia saído com alguns amigos. Na verdade, na rua ao lado. Preferia economizar a fim de beber uns 2 ou 3 vinhos a mais e, assim, escutar o som do bar no lado de fora mesmo. Nessa rua, o recinto permitia que as pessoas que ficassem na parte externa escutassem a banda, pois eles abriam os fundos e a única coisa que os separavam era um conjunto de grades. Pois, ali estava Bel, estagnada diante da música que invadia a sua mente de modo que já não escutasse mais nada, apenas alguns zumbidos, mas bem baixinhos. O único som que ela captava estava canalizado pelo o que a banda produzia. O grupo tocava Pink Floyd e a cada música de abertura seu corpo sofria uma sequência de arrepios. Suas mãos estavam segurando as grades com forças, pois ela havia confessado a si mesma um certo medo pela ocorrência da perda de equilíbrio. Enquanto a música seguia o seu ritmo, seus pensamentos estavam a mil. De repente, ela se viu ali, diante de um bar que usava uma grade como instrumento de separação entre as pessoas que a cercavam. Bom, quem são elas? Na verdade, para Isabelle, essas pessoas haviam pago para estarem presos. Enquanto ela, ah… Ela estava ali, ao ar livre, livre! – Nada a impedia de ir ali, voltar, e ainda assim escutar o som no mesmo tom e qualidade que as outras pessoas. Na realidade, haviam pessoas que favorecia uma distância de 20 centímetros, no máximo, de nossa amante da música. Isso deixava-a cada vez mais certa de que bom mesmo é permanecer-se livre, e não pagar para que outros a aprisionem. Isabelle odiava apenas pensar em uma ideia dessas, se alguma fobia lhe pertencesse, seria algo assim. De instante, concluiu que aquele momento era único. Quantas vezes poderia estar ali, sentindo algo tão extraordinariamente absurdo com aquela música, em um ambiente maravilhosamente agradável? Poucas! Mas, então, por ele não ocorrer diversas vezes é o que o torna tão bom? Será que, se Isabelle o vivesse diariamente deixaria de ser apenas bom, sem o absurdo? Bom, talvez nessa estrutura… Com essa valorização, pois, para Isabelle seria impossível algo bom tornar-se ruim por virar rotineiro. Ou deveria? Bom, depende. Ou nem tanto. O sexo, por exemplo, ele nunca deixa de ser bom. Mas, é claro, que se você passar algum tempo sem o fazê-lo, quando o acontece, a valorização é ainda maior. Para algumas pessoas, talvez, para Isabelle ele continua extraordinário mesmo que diário. Logo, então, ela concluiu que aquele momento deveria… Sim, ser apreciado, mas caso ele ocorresse novamente, mesmo que no dia seguinte, sua visão continuaria a mesma. Até porque algumas pessoas  deixam passar belezas extraordinárias em vão, pois esperam, esperam, e esperam o belo… Sem nem mesmo saber o que é verdadeiramente belo.

“Isa, Isabelle! Ei, mulher! Acorda!”

Ela se virou, olhou para algumas pessoas que estavam acenando e se dirigindo para algum outro lugar. Sorriu, acenou de volta estremecendo um sinal de “espere!” e os seguiu. Seguiu em frente.

Obs: Imagem enviada pela autora (retirada do site Pinterest)

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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