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Deste o tempo de Paulo VI, o dia Primeiro de Janeiro é dedicado à paz. Instituído como Dia Mundial da Paz, ele se tornou em momento propício para uma “Mensagem de Paz”, sempre assinada pelo Papa, na tentativa de identificar as situações de conflito que ainda permanecem, descobrir suas causas, e propor sua superação.

Neste ano, por exemplo, a mensagem de paz centra as atenções nas situações de escravidão que ainda permanecem, ressaltando como a fé cristã transforma as relações pessoais, fazendo-as passar de dependentes e subjugadas, para fraternas e igualitárias.

Mas desta vez a mensagem do Dia Mundial da Paz foi precedida por um fato que surpreendeu o mundo, e terá certamente muito mais influência do que a própria mensagem de paz.

Trata-se do reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos. Depois de quase sessenta anos de rompimento diplomático, e, sobretudo de embargo econômico, as duas nações decidiram empreender a normalização de suas relações, começando por restabelecer o fluxo diplomático, e colocando como primeiro assunto da agenda o fim do embargo econômico.

O que mais chamou a atenção neste fato inesperado, foi a intensa atividade diplomática da Santa Sé, comandada pessoalmente pelo Papa Francisco, que acolheu as duas delegações no Vaticano, garantindo-lhes um ambiente favorável de trabalho, e assegurando a sua mediação.

Ambos os lados reconhecem que sem a mediação do Papa as negociações não teriam chegado a este desfecho positivo. O próprio Presidente Obama, dos Estados Unidos, fez questão de atribuir ao Papa o mérito principal destas negociações. Ele propriamente se fez avalista dos acordos.

A superação do clima de hostilidade entre Cuba e Estados Unidos possui uma carga simbólica muito grande. Pode, de fato, ser considerada como o fim da “guerra fria” no Ocidente. Restaria agora, como último reduto desta “guerra fria” a Coréia do Norte, com seu excêntrico ditador que só tem suas bravatas para atrair as atenções mundiais.

Com certeza resta agora um longo caminho para implementar as conseqüências do novo relacionamento entre Estados Unidos e Cuba. Ele não será fácil, dadas as longas resistências, consolidadas sobretudo na rigidez do controle político em Cuba, e no seu atraso econômico. Mas as portas agora estão abertas, e a política encontrará os seus caminhos.

Além da importância evidente para os dois países, este episódio vem consolidar a grande liderança mundial do Papa Francisco. Ele vem surpreendo a todos, sobretudo por sua lúcida estratégia, de atuar em cima de situações simbólicas, para sinalizar seu projeto maior de fazer avançar as mudanças internas da Igreja, e ao mesmo tempo consolidar a aproximação ecumênica com os ortodoxos, e avançar no diálogo com as grandes religiões.

Ele já vinha insistindo na importância das religiões se colocarem a serviço da paz mundial, superando os fundamentalismos que com frequência medram à sombra das práticas religiosas.

Num momento em que se manifestam resistências eclesiais diante dos rumos do pontificado do Papa Francisco, é muito salutar esta demonstração de audácia política e de sábia diplomacia, comprovadas pelo bom êxito desta iniciativa.

Podemos dizer que o mundo “sentiu firmeza”, e não temerá novas iniciativas deste Papa surpreendente.

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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