Em qualquer Sessão como esta, analisando a realidade da violência do nosso Município, buscando as causas para poder atacar o problema pela raiz, sempre chegamos à conclusão de que a situação está muita ruim.

É a mesma conclusão que nós, os educadores da Pastoral do Menor (PAMENP, chegamos ao longo destes anos desde que iniciemos o trabalho em 1982 com meninos e meninas em situação de rua. A causa principal da situação de violência é a mesma: o desrespeito pelo ser humano. A pessoa humana não é prioridade, mas, sim, a busca do dinheiro, o poder e o prazer para quem pode. Enquanto a pessoa percebe que ela não é prioridade dos planos humanos, principalmente nas áreas de saúde, educação e recursos para uma vida digna, ela fica revoltada, e, muitas vezes, vai em busca da sobrevivência de qualquer jeito. Os nossos presídios estão cheios de pobres que partiram para usar a violência para poder sobreviver.

No início do nosso trabalho com crianças e adolescentes acostumados com a agressão verbal e física, descobrimos que eles não queriam manter este ritmo de violência, que, muitas vezes, envolvia cheirar cola, e, mais tarde, drogas mais fortes.

No primeiro contato em 1982, eles ficaram muito alegres em ver que a Igreja, que eu representava, estava interessada na situação deles. Eles pediram para continuar com estes contatos e assim começou a entidade que hoje é conhecida como PAMEN.

Reuníamos com eles cada semana e eles sentiram a nossa presença solidária como um gesto de amor por eles. Descobrimos que eles estavam cansados de uma vida desorganizada e precária e aceitaram normas que colocavam limites nas suas vidas; como, por exemplo, dormir em casa, freqüentar a escola e respeitar as pessoas na rua onde estão trabalhando. Outras normas que os ajudaram foram: manter-se em silêncio quando o outro está falando; não usar palavrão; conversar sim, brigar não; não roubar o freguês do outro; respeitar a tabela de preços para engraxar. Eram pequenos gestos para promover uma mudança de uma cultura da violência para uma cultura da paz.

Procuramos, desde o início, promover uma cultura da paz. Lembramos nas reuniões com eles que são criados à imagem e semelhança de Deus; que tem uma inteligência e livre vontade para serem usadas para o próprio bem e para o bem comum. Assim foram descobrindo seu valor e papel como cidadãos; assim crescia o auto-estima. Lembramos que são irmãos e irmãs uns dos outros, filhos e filhas do mesmo Pai -Criador. Que todos tem direitos e deveres – o direito de ter uma vida digna, e o dever de respeitar o outro na sua dignidade humana.

A metodologia que usamos na PAMEN é proporcionar para os meninos e às meninas em situação de risco, uma experiência de vida onde é promovido o bom relacionamento: consigo mesmo, com o outro, com Deus e com a criação. Com esta nova experiência eles podiam comparar com outras experiências de vida para avaliar para si próprio o que dava um melhor resultado na sua vida. A cultura da violência ou a cultura da paz.

(*) Depoimento dado por Irmão Ronaldo D. Hein, coordenador da Pastoral do Menor da Diocese de Santarém, durante a sessão na Câmara Municipal, no dia 10 de março, quando discutia o Tema e Lema da Campanha da Fraternidade: Fraternidade e Segurança Pública e, A Paz é Fruto da Justiça. Dez entidades foram convidadas para dar seu parecer sobre este assunto.

Obs: A PARTE II será postada na próxima atualização

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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