Sebastião Heber- In Memorian 31 de dezembro de 2010

DAS SIMPATIAS À BUSCA DA PAZ

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A festa de Ano-Novo tem como origem a França do século XIX. Em si ela não tem nada a ver com a religião, é apenas uma festa para marcar a virada do ano de acordo com o nosso calendário. A corte francesa aproveitava essa festa para fazer um banquete com comidas diferentes das do dia-a-dia, trazendo certas especiarias para a mesa. Para o catolicismo o Advento marca o novo ano litúrgico, os judeus e muçulmanos têm seus calendários próprios. De qualquer forma, a passagem do ano é sempre um rito de passagem importante.

Todos vemos como a imprensa privilegia essa festa de modo tradicional, isto é, há um recurso e um espaço próprio para as simpatias tão difundidas em todo o país nesse período do ano. As manchetes traduzem esse espírito (pelo menos aqui em Pernambuco, onde passo as férias com meus familiares), vê-se isso claramente: Ano-novo, casa renovada – Purificação: esotéricos recomendam fazer mudanças pontuais e uma boa faxina doméstica antes do dia 31 – Reveillon de ofertas – Rituais de boa sorte – Entrar com o pé direito. E há recomendações pontuais “para receber 2009 pela porta da frente” – diga-se, de passagem, que algumas recomendações são bastante pertinentes, como : “ Limpe a pia da cozinha e aplique no pote de lixo bicarbonato de sódio com eucalipto; também se desfaça de pilhas de papéis e da bagunça do ano velho; o banheiro deve ser higienizado pois o desinfetante ajuda a reorganizar a mente”.

A grande verdade dessa época, é que após as festas natalinas, a tradicional troca de presentes, todos se apressam em recepcionar o novo ano que está começando. E todo desejo de boa sorte nessa época é bem-vindo. A mídia em geral faz as retrospectivas do ano e relembra as atrocidades acontecidas naquele período: pais que matam filhos e vice-versa, desastres, corrupções e tantos outros infortúnios. Quem não quer dias diferentes e melhores? E são muitos os recursos para tentar obtê-los. O trajeto é percorrido por vias múltiplas : eles vão das superstições às rezas fortes, passando por aqueles que depositam confiança em pequenos rituais para afastar o mau agouro e atrair bons fluidos.

Para a Liturgia Católica a celebração do Ano Novo está dentro da “Oitava do Natal”. No dia primeiro celebra-se Maria a Mãe de Cristo, como a portadora da Paz. Na verdade as leituras da Missa põem a tônica mais no Cristo do que na Mãe, pois a mais sã doutrina católica pauta-se por uma centralidade cristocêntrica. O livro dos Números traduz a antiga crença judaica de que ser abençoado é invocar o Nome do Senhor: ”Assim, os filhos de Israel ficarão sob a tutela do meu nome e eu os abençoarei”. A carta aos Gálatas fala nesse tempo como “a plenitude dos tempos no qual Deus enviou o seu Filho nascido de uma Mulher”. O Evangelho da Missa diz que Cristo, como bom judeu, foi “circuncidado no oitavo dia e nessa ocasião foi-Lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o Anjo antes de ser concebido”.

O primeiro dia do ano é consagrado à PAZ. Não a paz dos antigos romanos – “se queres a paz prepara a guerra ”- mas aquela PAZ que Cristo veio trazer para aqueles que acreditam no amor. No sentido bíblico, PAZ é um dom messiânico por excelência, é a salvação trazida por Jesus, é a nossa reconciliação e pacificação com Deus. É também um valor humano a ser realizado no plano social e político e que tem suas raízes na mensagem de Cristo e de toda religião, pois na verdade, todas convergem para um princípio de unidade. É por isso que o mundo todo deposita tanta esperança na ascensão de Barack Obama que, pela sua história e origem, não poderia trair a confiança do mundo. Recordo-me de um estudante meu, que durante a campanha americana disse que “não sabia porque o mundo todo não podia votar nesse novo presidente americano…”

Que o Ano-Novo nos recorde a palavra do Papa Paulo VI na ONU: ”Nunca mais uns contra os outros. A humanidade deve por fim à guerra ou a guerra porá fim à humanidade”.

Sebastião Heber Vieira Costa. Professor Adjunto de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da BA, da Academia Mater Salvatoris e do Instituto Genealógico.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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