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O célebre Arcebispo de Olinda e Recife nasceu no Ceará no dia 7 de fevereiro de 1907. Faleceu aos 90 anos , no dia 27 de agosto de 1999.

Sua vida foi caracterizada por uma coragem ímpar e num desejo de tornar a Igreja Católica sempre mais próxima do povo. Veio do Rio de Janeiro, onde foi Arcebispo – Auxiliar e lá viveu 28 anos, isto é, de 1936 a 1964. Foi eleito para o Recife logo após o Golpe Militar de 64. Quando chegou àquela capital, no dia 14 de abril,foi recebido, como de praxe, pelas autoridades civis e militares. Já no sermão de posse, em praça pública chocou aos ouvidos da revolução pela clareza de sua posição político-pastoral: “ Ninguém se escandalize quando me vir freqüentando criaturas tidas como indignas ou pecadoras. Ninguém se espante me vendo com criaturas de direita ou de esquerda, da situação ou da oposição. (…) No Nordeste o Cristo se chama, para mim, João, Manuel, Severino”.

E, de fato, ele se pautou por esse programa de abertura e de diálogo durante todo o seu período no Recife. Claro que foram muitas as incompreensões. Ele “deu muito trabalho” às autoridades militares, que, muitas vezes tinham que recorrer a D. Eugênio Sales para intermediar e até, apagar certos focos de “incêndio” ateados pelo Arcebispo Vermelho. Ele próprio dizia :”Quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, mas quando pergunto pelas causas da pobreza, chamam-me de comunista”. Era, frequentemente, chamado ao exterior para conferências e lá denunciava a tortura e as prisões acometidas aqui.

Em pleno período revolucionário criou um movimento pacifista, para “dar voz aos que não tinham vez”, chamado de Pressão Moral Libertadora. Consistia em “Shows Políticos”, com artistas locais, discursos e na conclusão sempre havia a palavra dele, e que tinha o objetivo de encorajar a resistência – eram apresentações realizadas em pátios e áreas esportivas dos colégios católicos, pois não precisava “pedir licença” aos militares.

Quem viveu no Recife no tempo dele conhece de perto certos aspectos e atitudes que não estão assim tão difundidas. Um dia Violeta Arraes, irmã do governador já no exílio, sentiu-se perseguida por um carro do exército. Ela tentou driblar a vigilância, e conseguiu chegar até o Palácio dos Manguinhos, residência episcopal. E irrompeu de palácio a dentro. D. Helder a recebeu e ela contou-lhe, entre lágrimas, o que estava acontecendo. Nesse ínterim, os militares adentram também o palácio e comunicam ao Arcebispo a ordem de prisão a Violeta. D. Helder, num gesto brusco, corre à porta e passa a chave e diz a eles que quem está preso são eles por invadirem a residência do Arcebispo do Recife. E na casa dele quem mandava era ele. Portanto, em Violeta ninguém tocava. Ele pessoalmente telefonou ao antigo IV Exército comunicando o fato e afirmando que o Capitão só sairia de lá escoltado por um comando superior. Pode-se imaginar o desconforto que tais atitudes provocavam ao Exército que não podia tocar nele mas atingia os seus auxiliares. Dentre as vítimas atingidas mais célebres foi o jovem padre Antônio Henrique, seu colaborador para a pastoral dos jovens e operários, que apareceu trucidado com marcas de corda no pescoço e nos braços e tiros na cabeça.

O Arcebispo foi um homem marcado pela profecia e pelo carisma. A própria Igreja se espantava com ele. Em pleno Concílio Vaticano II, imbuído da mensagem de João XXIII, que queria uma “nova primavera” para a Igreja, ele sugeriu ao Papa, como sinal de despojamento dos Bispos para o mundo, que em plena Praça de S. Pedro, eles todos depusessem aquela capa magna que usavam nas solenidades, e todas fossem queimadas em praça pública. Claro que o Papa não permitiu considerando que seria uma encenação exagerada.
Após pouco tempo residindo no Palácio Episcopal, trocou-o pela sacristia da igreja das Fronteiras, e lá viveu com muita simplicidade, ele próprio abrindo a porta a quem tocava a sua campainha.

Durante anos manteve um programa na TV local intitulado “Sementes de Meditação”. Costumava se levantar às quatro da manhã para rezar e escrever poemas e tinha uma devoção singular à Missa. E dizia:
“A Missa é o ponto alto do meu dia, nela a gente se põe em contato com as inquietações , as dores e os sofrimentos da humanidade, para apresentar tudo ao Pai, através de Jesus Cristo, sacerdote da imensa Missa sobre o mundo”.

(*) Sebastião Heber. Professor Adjunto de Antropologia da UNEB, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do IGHB ,do Instituto Genealógico e da Academia Mater Salvatoris

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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