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Título estranho e quase irônico, quando escrito por um homem e especialmente que nunca casou, mas é o sentimento e a convicção que me vem pela passagem do dia internacional da mulher. Ao ver, a luta de minhas amigas para serem elas mesmas e como mulheres em uma sociedade que teima em continuar extremamente patriarcal, e mesmo machista. Em quase toda cidade grande, mulher ainda tem de tomar cuidado de não andar sozinha, principalmente à noite, em lugares pouco freqüentados – e há pouco houve o caso de uma jovem que foi estuprada e morta no estacionamento do prédio que morava, por volta das sete da noite, nas mãos de um porteiro do prédio, pessoa sobre a qual em princípio, se teria toda confiança. Mesmo na classe alta, o índice de agressões familiares dos maridos e amantes contra suas companheiras é de assustar, basta ver e c procurar saber em qualquer delegacia especializada.

Graças a Deus, a causa feminista e propriamente a libertação da mulher tem avançado no mundo inteiro, ao menos na consciência da humanidade mais consciente, embora ainda aconteçam absurdos em certos países da África e da Ásia sob pretexto de cultura. Seguramente, nada que é contra a vida e a integridade de uma pessoa humana pode se chamar validamente de “cultura”. Nenhuma religião legitima nem véus que escondem a mulher e a oprimem, nem mutilação de qualidade nenhuma, e nem pregam atualmente a desigualdade. Porém, Algumas Igrejas cristãs como as ortodoxas e a Igreja Católica Romana, assim como certos grupos fundamentalistas judeus não reconheçam a igualdade de direito da mulher no acesso a ministérios e no culto. Mas, a pregação mesmo destas Igrejas sempre defende, ao menos teoricamente e sem coerência prática, a dignidade e igualdade fundamental entre mulher e homem.

A causa da libertação plena da mulher e a defesa de sua plena autonomia, liberdade e direitos iguais é uma questão de paz no mundo, tem conseqüências para toda a família, como a educação das crianças e liberta também o homem que, muitas vezes, esconde um macho frustrado e cheio de complexos sexuais e sociais. É dever fundamental de toda pessoa ética e que tenha o mínimo de uma espiritualidade humana e deve nos engajar absolutamente a todos, mulheres e homens.

Há mais de 20 anos, algumas antropólogas e teólogas feministas já denunciavam que a destruição ecológica está no cerne do mesmo sistema patriarcal que oprime a mulher. Ao reverenciar a Terra como mãe (Pacha-mama, por exemplo), certas culturas indígenas e tradicionais falam da Terra como mãe carinhosa. Outras honram a terra como esposa da comunidade. Nos Andes, há tempos proibidos para o plantio porque são dias em que se considera que a Terra está “em seus dias” e não deve ser tocada. O eco-feminismo que daí nasceu tem raízes indígenas e negras, mas, hoje é importante bandeira do movimento feminista internacional e importante elemento da caminhada internacional da sociedade civil para uma civilização nova de paz e justiça. Ao mesmo tempo, para as pessoas que crêem, esta caminhada das mulheres nos revela de forma mais forte o rosto feminino de Deus, presente e atuante neste processo pascal de libertação e de mais vida para todos.

(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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