Therezinha Paiva 3 de fevereiro de 2009

7 de janeiro de 2009

“Por que me detestas, se nunca te fiz favor nenhum?”
Confúcio

Verdade, ao fazermos “UM FAVOR”, o que chamo de “ESTENDER AS MÃOS”, despertamos sentimentos ruins, de revolta, de insegurança, de inferioridade…
“Você quer me ver rastejando!”
Ouvi isso de Luiz Luiz depois de tantas e tantas vezes ter estado a seu lado apoiando, ouvindo e ouvindo seus “DESABAFOS” muitas vezes violentos e ofensivos, principalmente quando estava alcoolizado. Impossível que um amigo permita que o outro rasteje.
Ao longo de alguns anos fui sua “amiga maior”, mas só o tive a meu lado quando de mim necessitou.
Certo dia, levou-me, sem que eu soubesse onde estava me levando, à casa de sua mãe. Esse, o último encontro de um filho desesperado com sua mãe, que veio a falecer pouco tempo depois, vítima de um enfarto.
Luiz Luiz foi abandonado por sua mãe, aos 5 anos de idade. Foi criado pelos avós. Jamais deixou de amar sua mãe. Aos 15 anos fugiu e passou a viver sozinho. Um menino lindo que estudou e se formou: médico.
Emocionada até às lágrimas, ouvi o grito de angústia de um homem que jamais aceitou o afastamento imposto pela mãe:
“- Por que você me abandonou?”
Batia no peito e gritava e gritava: “- Essa imensa dor jamais será afastada!
Por que você fez isso, por que?”
Seguiu jogando-lhe no rosto tudo que de errado fizera e insistindo nas perguntas indagativas de seu sofrimento.
Ela, sem o olhar, apenas dizia: “- Ele só grita; sempre foi assim”.
E Luiz Luiz, as lágrimas descendo pelo rosto, implorava o amor de sua mãe da forma que sabia pedir: sarcástico, agredindo, ofendendo, insultando… Arranquei-o de lá.
Na morte de sua mãe, o desespero presente, impensadamente, agrediu a sobrinha, com um chute, e a irmã, chamando-a de assassina. Por quê? Ciúme, ciúme puro, pois elas viveram ao lado daquela que ele amou tão intensamente e foram alvos de seu carinho, seus cuidados, sua atenção, que ele tanto e tanto necessitou e não recebeu e que não mais poderá receber.
Para ir ao sepultamento precisou de meu apoio. Não recusei; fiquei ao seu lado. Só depois, soube o que acontecera na véspera.
Depois, quantas agressões, quantas palavras violentas, quanto rancor, quanto azedume. Certo dia, no auge da raiva pelo que eu afirmara, bêbado, quebrou-me o braço.
Quando de novo precisou de mim, como se coisa alguma tivesse acontecido, apareceu com um sorriso.
Assim segue Luiz Luiz; uma vida desperdiçada. Até quando?
Por enquanto não vislumbro qualquer chance para ele; no entanto, quem sabe? Tudo abandona; inicia, começa a desenvolver e interrompe. É inteligente, culto, mas…
Da última vez que me procurou, falamos rapidamente. Pela entonação de sua voz, algo desagradável aconteceu. O que? Não sei.
Minha amizade por Luiz Luiz é pura, verdadeira.
Fica para mim uma saudade e o desejo e a esperança de que ele se livre do álcool, refaça sua vida profissional, seja feliz e não dependa da ajuda de pessoa alguma. Que ele se valha por si mesmo. Conseguirá?
Pena que muitas mães não tenham a sensibilidade necessária para sentir o quanto seus filhos precisam de carinho, de amor, de atenção, de conversar, de falar e, principalmente, ouvir. Sim, ouvir, pois o ouvir demonstra o interesse daquela que tanto amam, de seu interesse em sua pessoinha quer quando criança, adolescente, adulto ou velho. O relacionamento franco, amigo, alegre, verdadeiro, com aqueles a quem amamos é o bem maior que podemos possuir. Necessitamos do sim e do não e mais ainda que venham com o porquê. Isso, durante todo o caminhar.
Todos temos altos e baixos, bons e maus momentos, alegrias e tristezas, mas se estivermos fortalecidos, confiantes, saberemos levantar e seguir, seguir, seguir…
Possa Luiz Luiz perdoar sua mãe e encontrar a paz tão necessária e almejada. Enquanto isso não ocorrer…

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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