28 de fevereiro de 2009
Nós, seres humanos somos uma espécie estranha entre os milhares de outros seres do planeta. Somos capazes de contemplar a beleza de um rio amazônico, a beleza de um por de sol multicolorido; somos capazes de sentir grandes emoções de alegria, de tristeza e de saudade. Rimos, choramos, vingamos e solidarizamos. Por outro lado, somos capazes de perversidades que nenhum animal irracional é capaz.
Nos últimos tempos, há sinais de uma diminuição das capacidades positivas dos seres humanos, quase todas aquelas mencionadas. Algo está provocando esta redução das boas capacidades a apenas uma, o prazer do espetáculo. Não quer dizer que a sociedade esteja promovendo os circos, os palhaços (estes aliás, estão diminuindo, pois outros invasores estão se apresentando no Congresso Nacional, nos fóruns de justiça, até no Supremo Tribunal Federal, infelizmente, sem a mesma graça dos profissionais).
Tudo na vida hoje que é espetacular provoca a atenção das pessoas, seja um jogo de futebol entre grandes times, a queda de um avião com vários mortos; seja um bombardeio israelense sobre a cidade de Gaza, quando a televisão mostra prédios destruídos e crianças sangrando nos braços das mães, elas próprias sangrando e chorando pedindo socorro.
No entanto, bem aqui perto, o número de mortes e traumas humanos está se multiplicando aceleradamente, sem causar mais emoções e, menos ainda mudança de atitudes. São os acidentes de trânsito. Só provocam emoções e atraem atenção quando o acidente acontece próximo de casas, quando os vizinhos se amontoam diante do acidente. Quanto mais traumático, sangue correndo, ossos expostos, mais comentários surgem, sinais de impactos aparecem, mas logo que a ambulância leva a vítima ao hospital ou ao necrotério tudo volta ao normal naquela vizinhança, até que novo triste espetáculo surja .
Será que a publicação dos números de acidentes ocorridos na cidade ainda pode provocar uma educação real na espécie humana, que vive e transita nas ruas das cidades? Observe com atenção os números dessa guerra tão violenta quanto o massacre frio dos israelenses contra os palestinos.
De 2005 a 2008, portanto, em apenas 4 anos ocorreram na cidade de Santarém, 1.946 acidentes de trânsito, nos quais faleceram 84 pessoas e 1.070 ficaram com traumas, tendo vários perdido uma perna ou braço. Ainda mais: desses 1.946 acidentes, 1.209 envolveram motocicletas. Nestes, 352 motoristas eram sem habilitação legal. Agora, todos esses números são reais, publicados pelas autoridades policiais de trânsito. Então, todos esses números causam alguma emoção em você? provocam em você alguma decisão pessoal, seja você motorista ou pedestre? Os números são mais um espetáculo, ou um alerta sério para todos nós? Quando o trânsito mata mais gente do que certas guerras, a humanidade toda deve entrar em alerta e buscar saída para cuidar da vida desta espécie estranha ainda existente no planeta terra.