Célia Cavalcanti 3 de janeiro de 2009


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Natal é sempre, cada dia…Mas há dias em que o Natal chega cheio de farturas,para quem nada tem…Foi o que aconteceu naquela manhã chuvosa e fria no bairro de Copacabana com Leonardo…

Duas mulheres caminhavam com uma sombrinha que de boa vontade acolhia ambas, protegendo-as mais ou menos dos pingos grossos de chuva…Era cedo – 7;30 da manhã de uma segunda feira. As lojas ainda fechadas….Exceto algum bar ou confeitaria.

As duas haviam atravessado o túnel Rebouças, que já apresentava um trânsito intenso. Estavam cansadas, estressadas , por causa do acúmulo de serviço que deviam concluir…Com muito esforço haviam conseguido com o seu grupo, depois de alguns meses de trabalho, gravar um CD, e se apressavam justamente para os últimos retoques … O estúdio estava fechado. Foram à Igreja mais próxima e assistiram a missa que começara naquele instante. Logo depois se dirigiram a uma confeitaria para tomar um cafezinho quente. Ao passar pela calçada perceberam um embrulho no chão…era algo quase irreconhecível. Não era um embrulho. Era alguém muito encolhido que puxara a própria camisa meio cinza chumbo, beige sujo, e conseguira se envolver naquele pano… As duas continuaram caminhando em silencio até que se entreolharam e disseram quase juntas: “Que é isso meu Deus?!”

A mais nova disse: “-Quem sabe se alguma loja já abriu. Vamos vestir essa pessoa.” Não sabiam se era homem, mulher, ou algum adolescente. Na verdade só sabiam que era um necessitado…Qualquer coisa lhe cairia bem…Mas essa qualquer coisa deveria ser o melhor que elas pudessem doar. A mais nova, que dispunha de algum dinheiro na hora, comprou uma camisa, um casaco, um sapato, uma meia e ainda uma mochila…Foram até ele e o acordaram. Viram um menino de uns 13, 14 anos surpreso e assustado . Vestiram-no. Ele calçou a meia e o tenis , perplexo e sem entender nada. A mais velha pensou consigo mesma: “-Vou dar a esse garoto o que ele jamais recebeu na vida”…Abraçou-o com carinho, segurou-lhe a mão e perguntou seu nome, -“Leonardo”, respondeu. Disse que morava longe dali e costumava ficar sempre nas ruas, pois em casa não tinha comida,a familia era grande, muitos irmãos…se ele se ausentasse, sobrava um pouco mais para os outros… A conversa foi rolando até a confeitaria, onde Leonardo com as duas mãos devorou o pão com manteiga e queijo e café com leite.

Olhos castanhos grandes, interrogadores e agradecidos, prometia que iria mudar de vida. Voltaria para a escola e ajudaria a mãe. Pensamos:”Ele iria mudar de vida ou a vida mudaria para ele?”…
Estávamos em pleno mês de julho . O natal para Leonardo, não chegara em dezembro.

Para as duas mulheres naquele instante também se fez Natal !…

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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