Tantas e tantas vezes a vejo passar frente à minha janela e ela parece nem notar.

Não desconfia que dentro deste peito um coração bate descompassado, como a querer fazê-la compreender que este humilde operário sonha muito, sonha alto demais.

Sim. Sonha muito alto. Existe um abismo quase intransponível entre nós, talvez o maior obstáculo que se possa imaginar entre a minha afeição que eu considero santa e a indiferença dela que eu julgo ingratidão.

A diferença é o dinheiro, a posição social, eu sei, compreendo que sou um operário modesto que mora juntamente com meus pais em uma casinha simples.

Ela mora numa mansão grande no fim da minha rua, circundada por um imenso jardim.

Existem flores de todos os tipos: Açucenas, rosas, orquídeas, violetas, margaridas parecendo o jardim do Éden, mas a flor mais linda é aquela que anda, que ri, que passa tantas vezes por mim sem nem mesmo notar que  existo.

Engraçado, certa vez tive um sonho em que a lua brigava com sol  com ciúmes da minha deusa só porque o astro rei bronzeava com seus raios as curvas maravilhosas do seu corpo.

Hoje choveu e bem em frente à minha janela formou-se uma poça d’água. Transformei-a  em espelho.

Espelho da minha mágoa. Ela transportou o céu para o chão de minha rua. Passei horas conversando com as estrelas. Eu as queria todas para mim, mas perceberam que não seriam para mim mas, para ela

Meus olhos se transformaram numa poça maior. Não vi mais as estrelas.

Tem ocasiões que desejo que ela se vá para bem longe de minha rua, que não passe mais pertinho de minha janela, mas na minha imaginação febril fico a procurá-la novamente. Onde estará?

Não. Eu prefiro olhá-la, vê-la todos os dias. Minha rua é sem graça, mas quando por ela passa o vulto que me seduz, transforma-se numa paisagem de festa, numa cascata de luz que manda para bem longe a escuridão desse amor frustrado.

Oh Deus, não poderia ser o contrário? Não poderia haver um jeito de conseguir aquilo que se quer?

Ao diabo o dinheiro, a posição social: Eu quero somente ela,  a deusa de minha rua.

Más se justamente é o dinheiro que nos separa. Perdoa-me Deus, não sendo possível permita-me apenas que viva e que ela também, que  eu me contente em contemplá-la quando ela passa, que continue o meu lindo sonho. Perdoa-me se a chamo de deusa, não é um desrespeito à Vós que considero como o grande arquiteto do universo.

Mas, para mim ela é a “deusa da minha rua”.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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