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O menino corre descalço pelo chão de terra em meio a lama e o capim.
Nas mãos tenta equilibrar os dois litros d’agua.
Brinca com a realidade ou seria a realidade que brinca com ele?
Quase tropeça, mas olha pra trás e sorrir.
Aos poucos a mãe vira um pontinho longe muito longe.
A lata na cabeça apenas um contorno.
Ele volta.
No caminho outros meninos o observam …
desajeitados,
pequenos,
sujos,
descalços.
Um velho pescador também o acompanha.
Coça a cabeça.
Seu olhar perdido,
cansado,
distante.
Suas mãos calejadas, suas forças cada vez mais efêmeras.
Não têm mais a esperança do menino, aquele sentimento sunreal às vezes utópico.
Não retribui o sorriso da criança, que mesmo assim insiste em lhe mostrar com ternura a longa fileira de dentes.
Duas visões,
duas pessoas
e um mesmo problema.
O menino sai em disparada e caminha ao lado da mãe.
Exausta.
O velho levanta do seu banquinho, abre a torneira e ouve apenas o barulho do vento nos canos.
Aniquilado recolhe o que lhe sobrou da sua dignidade e volta pra casa…
*** Dedico o texto a todos aqueles que sofrem com a falta d’agua. Infelizmente não fui tomada pela inércia que se apoderou de muitas pessoas …
Obs: Imagem enviada pela autora é de Octavio Campos Salles