confuso e nebuloso até o fim
acaba-se o ano, sem que fiquem
saudades. porém um ano qualquer,
a rigor, nunca termina, a não ser
naqueles que com ele se foram.
permanece dele sempre um resto,
umas contas a pagar de exercício infindo,
folhas velhas de um calendário
que se mantenham, como papéis
que não se ousou jogar fora
depois de arrumar as gavetas.
o que somos nós, portanto, nesta
data ou em qualquer momento,
senão o somatório dos guardados
de todos os anos já vividos,
o conjunto do que retemos, por vontade
própria, ou a mando, ou a medo,
e daquilo que por si guardou-se em nós,
sem consulta nem polidez, revelias várias?
é por isso só nas aparências
que acaba o ano, e só o faz
por delicadeza, para que possamos
brindar alegremente ao novo,
ao que virá, ao que será melhor,
ao que queremos. ficando assente,
porém, em registos próprios,
cerebrinos e emotivos, que confusos,
nebulosos, avessos a entendimento,
acabamos nós, um dia –
e não os anos, este ou os outros.