Que palavras não estão gastas?
de que palavras não se fez ainda
trilha batida, caminho pisado sobre a grama?
que palavras se mantiveram frescas e vigorosas,
não sucumbiram ou feneceram diante
da enxurrada diária de tantos discursos?
Diga-me, por favor, quem puder –
quero ouvir sua pronúncia, ler sua grafia
quero que seu significado reverbere na minha cabeça.
Mas atenção: não servem novidades ligeiras,
modernismos peregrinos, palavras apenas estrangeiras.
Fique claro que não se trata de falar em outra língua,
sendo apesar de tudo tão bela a nossa.
Preciso dessas palavras, indique-mas quem as souber –
não tanto para fazer o poema, afinal tão dispensável,
mas sobretudo para levar aos pulmões ar puro,
para viver sem sufocar com o mormaço carregado
e viscoso que vem de mesméria.