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A Comissão do 3° Centenário da Morte do Padre Antônio Vieira preparou um volume especial para a celebração desse evento e que tem esse título : “Um Encontro com Vieira”. A edição foi preparada com o objetivo de fornecer aos seus irmãos jesuítas da Bahia e do Brasil, alguns dados , uma vez que nem todos teriam a oportunidade de ler obras mais extensas e profundas. São clássicos, nesse tema, as obras de André de Barros, que é o primeiro biógrafo – Vida do apostólico Pe. Vieira – , a de João Lúcio de Azevedo -História da Companhia de Jesus no Brasil – e a obra do famoso Pe. Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil.

O livro citado organizou a história de Vieira em cinco períodos, que abarcam essa vida longeva, o que era raro no seu tempo : Formação, Diplomata na Corte de Portugal, Missionário, Inquisição e Últimos Anos na Bahia.
Ele nasce em Lisboa no dia 6 de fevereiro de 1608 – é o primogênito de Cristóvão Vieira Ravasco e Maria de Azevedo. É batizado na igreja da Sé em Lisboa, tendo como padrinho o Conde de Unhão D. Fernão Teles de Menezes. Ainda criança, seus pais partem para o Brasil, vindo habitar em Salvador. Inicialmente, a família se instala na Rua da Gameleira. Mais tarde, eles se deslocam para fora das Portas de S. Bento. Como toda criança de sua condição, ele recebe os cuidados da educação materna, mas freqüenta as aulas formais de Gramática e Humanidades no Colégio dos Padres no Terreiro de Jesus; é nessa ocasião que se dá o famoso “estalo”, quando estava rezando diante de Nossa Senhora das Maravilhas na igreja da Sé.

Em 1623, ouvindo uma pregação do Pe. Manuel de Couto, sente-se atraído por aquele gênero de vida. E, de fato, é o que acontece : “Me resolvi a ser religioso passando junto à igreja de Nossa Senhora da Ajuda”, pois era o caminha que fazia da casa para o Colégio. No mesmo ano ele começa o noviciado, sob a orientação do reitor, Pe. Fernão Cardim.
Ele testemunha a chegada da Armada Holandesa que se apodera de Salvador. Por isso, o noviciado se transfere para S. João da Mata. Um pouco antes da saída dos holandeses, em 1625, ele emite os primeiros votos. Mas faz também um voto particular :”De idade de dezessete anos fiz voto de gastar toda a vida na conversão dos gentios e doutrinar aos novamente convertidos, e para isso me apliquei às duas línguas do Brasil e Angola”.

Mesmo antes de ser ordenado padre, ele já exerce a função de professor. Em Olinda, Pernambuco, ensina Humanidades e Retórica. Mas volta à Bahia onde faz seus estudos de filosofia e teologia. Porem, antes de ser diácono, estréia sua oratória na Conceição da Praia, em 1633, no 4° domingo da Quaresma Mas no mesmo ano, em 1634, celebra a primeira Missa no dia de Santa Luzia..A partir daí, sua vida de pregador deixa marcas indeléveis: em 1638 faz o sermão gratulatório pela vitória contra os holandeses, que tentaram invadir a cidade sob o comando do Conde Maurício de Nassau. Em 1640, na igreja da Ajuda, faz o famoso Sermão pelo sucesso das Armas de Portugal contra as da Holanda. Quando chega o novo Governador , o Marquês de Montalvão, é ele o pregador.
A vida de Vieira foi um périplo, que reflete seu espírito missionário, de pregador e de homem que representa a cultura do seu tempo.

O seu último período, de 1681 a 1697, foi aqui na Bahia. Mas já estava desiludido. Faz parte do Colégio do Salvador, porem, a maior parte do tempo, permanece na Quinta do Tanque, casa de campo do mesmo Colégio Em 1688 o Padre. Geral, Pe. Tirso Gonzalez, o nomeou Visitador Geral do Brasil e Maranhão, mas sem necessidade de sair da Bahia. Vieira assumiu esse encargo em 15 de maio de 1688 e se transferiu para o Colégio. Quando estava na Quinta do Tanque, dedica-se à publicação das suas obras. É com sua presença aqui, que S. Francisco Xavier se torna Padroeiro da Cidade. Houve uma epidemia de febre amarela. Mais de cem dos membros do Colégio, foram atingidos por esse mal. Sobraram quatro, incluindo Vieira. A Câmara fez a promessa ao Santo Patrono para livrar a cidade dessa desgraça. E alcançou a promessa.

Nesse ínterim, os seus Sermões são publicados em Lisboa – em 1690 é publicado mais uma edição sob o título “Palavra de Deus Empenhada”. E, na mesma ocasião, o que era inusitado para a época, foi publicado em Puebla de Los Angeles, México, uma Carta, chamada “Atenagórica”, de uma freira poetisa, sobre um dos seus Sermões – “orador grande entre los mayores”, diz ela. É importante sublinhar que em muitas missões realizadas , como a dos Cariris, na Bahia, tudo foi “patrocinado” com o resultado da venda dos seus livros. Sua última carta,dentre as 800 que escreveu, é de 12/07/1696, e foi dirigida ao Padre Geral da Ordem.. Em 18/071697, de forma tranqüila, ele falece. O Ofício Fúnebre foi realizado na Sé pelos Cônegos, mas é sepultado na igreja do Colégio. Mas não se sabe onde estão os seus restos mortais.

*Professor Adjunto de Antropologia da UNEB, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, da Academia Mater Salvatoris, Sócio da Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio, Sócio Efetivo do Instituto Genealógico.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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