Abril de 2007

6. A luta, como consciência moral, se manifesta em forma de pressão
“A violência não resolve, a violência corrompe, a violência não se desprende, se acostuma, cria vício, etc.”, repete a classe dominante. No entanto, as leis foram criadas para manter os pobres calados. É preciso crer firmemente que, aplicando as Leis, o povo não consegue nada. Para conquistar alguma coisa é preciso infringir a Lei. “É no ato de desobediência que aparece a consciência”.
Se uma pessoa desobedece vai para a cadeia. Porém, se um milhão de pessoas desobedece, questiona a lei, a lei tem que mudar. Ação coletiva constrói consciência coletiva. “Obedecer a Lei é agir além da Lei”. Repetindo: Toda lei é feita para defender as estruturas estabelecidas. Os sistemas democráticos jamais levaram à mudanças. É preciso ter outras estratégias para denunciar o sistema. Então, ter consciência moral é agir além da Lei.

7. É preciso agir com inteligência
É preciso estudar as posturas da classe dominante – não existe poder total e absoluto. Temos que agir nas brechas, nas fraquezas do sistema. E uma das fraquezas do sistema é a propriedade latifundiária; o sistema de propriedade rural, no Brasil, é um escândalo mundial. O governo atual poderia aproveitar esta brecha, desta fraqueza do sistema, infelizmente, até agora, parece que não se deu conta disso ou não acredita nisso.

8. Coragem
É preciso perseverar, enfrentar e vencer o desânimo, o cansaço, a desilusão. É preciso enfrentar a cumplicidade dos que apostam nas fraquezas. Coragem, perseverança, teimosia, nada se consegue, normalmente, sem coragem. Somente é derrotado quem se reconhece como derrotado; quem não se reconhece como derrotado não é derrotado; tudo continua – a militância nunca pode declarar-se derrotada.

9. Participação na vida dos pobres
Não basta um bom discurso, é preciso participar da vida coletiva. Ser solidário é estar junto. É insuficiente achar que “nós somos os conscientes, os justos, os verdadeiros e os outros, o povo são alienados, inocentes úteis”. Ser consciente é tomar parte nas ações.
De nada vale pensar que porque “eu fiz um curso, sou superior aos outros”. É preciso sentir-se semelhante ao outro. Do contrário, não se cria confiança, não se constrói cumplicidade coletiva. Achar-se superior, mais importante, desperta o ódio na grande maioria. Ser militante é ser participante na vida dos outros, um companheiro no meio de companheiros. Daí vem o poder de despertar as energias que estão adormecidas no meio do povo.
“O nosso maior aliado é o povo”, dizia D. Helder. Por isso, quem estuda e não volta à sua base, às suas raízes, se afasta da realidade e já não sabe mais o que acontece no meio do povo. É verdade, que pobre aprendeu a ter horror à pobreza; por isso, quando consegue sair, não quer voltar mais. Acha uma vantagem repetir “eu me salvei da pobreza, eu me salvei da ignorância” e se esquecer do seu irmão.

10. Toda ação supõe organização, ordem e disciplina
Toda ação coletiva supõe a necessidade da organização e da disciplina. Mas, o valor da disciplina está no fato da disciplina voluntária e consciente da militância – não a disciplina do medo, a disciplina dos quartéis.

Obs:- Notas a partir de palestra de Pe. Comblin.

O Teólogo e padre José Comblin tem uma vida dedicada à Teologia da Libertação e é militante da igreja, na Paraíba e no nordeste.

A Parte I foi postada no dia 07.10.2008

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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