5 de dezembro de 2011
O ônibus parou de repente, de repente demais. Um pneu tinha furado. O velho acusou o motorista. Disse “esses motoristas não sabem desviar das coisas”. Talvez no tempo dele os motoristas fossem capazes de desviar de objetos pontiagudos nas ruas. Havia certa sintonia no ônibus. Mas não notaram, nenhum deles notou. O velho resmungava alguma coisa para o cobrador. Algumas pessoas eram notáveis, faziam-se notar. Algumas eram também expulsáveis, pediam para serem expulsas, não com palavras; como o velho. Um menino, quando o ônibus parou de rompante, voou longe. Caiu deitado ao lado do motorista, deu um sorriso e voltou correndo pelo corredor. Repetia esses movimentos desde que o ônibus havia parado, correndo incessantemente.
O velho agora falava que já deviam ter providenciado um ônibus para levá-lo até seu destino. Um halterofilista, ou alguma coisa muito próxima disso, estava sentado atrás do velho. Parecia calmo, até dar só um tapa na nuca do velho, que desmaiou em câmera lenta, deitando a testa no banco da frente. O homem que acertou o velho tinha um ar de não estar satisfeito com os braços e suas ações, pois falava baixinho “olha o que vocês fizeram!”, repetidamente, o garoto corredor ouviu e parou de correr assustado. O cobrador também ouviu e arriscou falar “já está chegando um ônibus reserva”. Ninguém se manifestou, estavam assustados com o “braço de rinoceronte”.
Uma mulher grávida tentou acordar o velho desmaiado, o braço direito do halterofilista levantou vagarosamente, a mulher saiu segurando a barriga assustada em direção ao motorista. Estavam parados em uma estrada de chão. O motorista havia sumido. Tudo estava nebuloso como em um sonho. As pessoas começaram a sumir. O velho levantou e gritou para o homem musculoso: “você não pode matar um homem morto!”.
De repente todos começaram a notar, estavam mortos, ninguém sobreviveu ao acidente. Não fosse por isso o halterofilista levantou, agarrou o velho pela gola e falou, mas não abriu a boca. Suas axilas que falaram “ah podemos!”. Os braços tinham vida e mandavam no dono que estava pedindo desculpas com os olhos.
Então ele acordou. Tinha sido apenas um pesadelo. Suas axilas não falavam e seus braços o obedeciam, pensou o “quase” halterofilista “Edgar, braço de PVC”. Ouviu alguém chamar e respondeu:
– Já vou, mãe!
– Que mãe, rapaz!?
Era a axila direita.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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