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Neste final de janeiro e começo de fevereiro, notícias internacionais denunciam um aumento de choques entre hinduístas fanáticos e muçulmanos no sul da Índia. Enquanto isso, no Egito, os cristãos coptas choram a morte de membros da Igreja assassinados por fanáticos muçulmanos. Infelizmente, a motivação religiosa ainda é um dos fatores presentes em muitos conflitos e guerras. É tarefa das Igrejas, grupos religiosos e pessoas espirituais colaborar para o diálogo e a paz. Neste contexto, uma responsabilidade maior cabe à Igreja Católica. Antes de tudo, por ser, no mundo, a Igreja que tem o maior número de fiéis. Além disso, por ter sido na história, a instituição religiosa que mais praticou a perseguição aos diferentes. Mas, principalmente, porque o próprio termo católico significa em grego universal. No mundo antigo, pais da Igreja como Tertuliano (século II) explicavam que a Igreja é universal, não apenas por ser internacional, mas por ter a vocação de ser aberta a tudo o que é humano. Atualmente, apesar de muitas contradições e fragilidades, a Igreja Católica acentua a sua vocação de dialogar com outras religiões e culturas. No Vaticano, o papa mantém um Secretariado para o diálogo das culturas e religiões. Neste contexto, é estranho que, em Goiás, grupos católicos que se consideram espirituais criem polêmicas e assumam posições intransigentes e de condenação a outros irmãos, católicos como eles. Não poupem de seus ataques nem pastores da Igreja, bispo e padres que dão a vida para cumprir com fidelidade a sua missão evangélica. Com este tipo de fiéis e amigos, a Igreja não precisará de inimigos.

Há quase 50 anos, o Concílio Vaticano II reconheceu a autonomia da sociedade civil em matéria social e política. A Igreja pode e deve dialogar, mas não impor seus critérios e opções. Infelizmente o mesmo princípio do diálogo não ficou claro quando se trata da Ética social e das questões morais. Ainda há cristãos que pensam poder obrigar toda a sociedade a viver aquilo que eles acreditam. Em matéria de princípios éticos, o Concílio Vaticano II propôs que os cristãos considerassem ético tudo o que protege e favorece a vida, a saúde e a liberdade das pessoas.

Com relação à ética sexual, os cuidados da saúde e a sensibilidade das pessoas, o mundo mudou muito rapidamente. Hoje, é difícil compreender que pais deixem uma criança morrer sem transfusão de sangue, porque a Bíblia proíbe. Seria igualmente estranho um padre pregar no púlpito que, durante a Quaresma, os esposos devem se abster de atos sexuais. Há poucos séculos, em algumas regiões, isso era um costume que se tornou praticamente lei. Assim também, pode acontecer que católicos do futuro estranhem que, hoje em dia, sejamos intransigentes e incapazes de dialogar por questões que, para eles, serão tranqüilas. Por isso, hoje, para ser fiel ao evangelho e falar uma linguagem que possa ser compreendida pela humanidade, a Igreja tem de continuar o diálogo fraterno que o papa João XXIII começou com o mundo. Os bispos e padres, assim como os fiéis, têm todo direito de pensar de acordo com sua consciência, mas não podem impor isso ao mundo. Para Jesus, a única verdade absoluta é o projeto divino que os evangelhos chamam “reino de Deus”. Ao ser submetido ao julgamento do governador Pilatos, Jesus foi interrogado se era mesmo rei deste reinado divino. Ele respondeu: “Eu nasci para dar testemunho desta verdade e toda pessoa que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37).

É a este projeto de vida e saúde para todos que Dom Eugênio Rixen, bispo de Goiás e, desde muitos anos o bispo responsável, no Brasil, pela pastoral de apoio aos portadores do vírus HIV, serve e se consagra. Do mesmo modo, Frei Paulo …., sacerdote fiel e bom pároco da Cidade de Goiás, assim como os outros padres e agentes de pastoral da diocese de Goiás, merecem toda a nossa confiança e solidariedade. Foi com a mais profunda motivação evangélica e de cuidado com a vida, que, no 1º de dezembro de 2010, Dia Internacional da Luta contra a Aids, a paróquia da Catedral da Cidade de Goiás promoveu, junto com o governo do Estado e a prefeitura de Goiás, uma campanha educativa e de incentivo à proteção da saúde. Embora isso tenha gerado polêmicas e incompreensões entre irmãos da mesma Igreja, sem dúvida, o pároco e a equipe pastoral de Goiás agiram de acordo com a palavra de Deus e a melhor tradição da Igreja em servir ao bem do povo.

Em sua época, disse Santo Agostinho: “Apontem-me alguém que ame e ele sente o que estou dizendo. Dêem-me alguém que deseje, que caminhe neste deserto, alguém que tenha sede e suspira pela fonte da vida. Mostre-me esta pessoa e ela saberá o que quero dizer” (Sto Agostinho).¹

(*) Monge beneditino, teólogo e escritor
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¹ – AGOSTINHO, Tratado sobre o Evangelho de João 26, 4. Cit. por Connaissance des Pères de l’Église32- dez. 1988, capa.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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