Olhou para os lados e melancolicamente percebeu, como que de plantão, a leveza e o peso de um silêncio por toda a sala. Em sua leveza ele é como um suspiro e seu peso é tão forte quanto a solidão. O silêncio da saudade é solidão, é dor, é amargura.
A sala pequena parecia um enorme deserto. O corpo da mulher projetou-se em sombra como um peso morto sobre o sofá. Seus olhos secos desejavam chorar, não podiam. Seu coração sofrido parecia explodir, tal a angústia que o dilacerava. Queria chorar. Precisava chorar. Sabia que se pudesse extravasar todos os sentimentos em lágrimas, talvez sua amargura aos poucos fosse levada como por uma enchente que leva aos borbotões tudo quanto encontra em seu caminho.
Lembrou da pergunta do poeta: “De que cor será sentir?” Pareceu-lhe ver um arco-íris cortar o céu de lado a lado. Quem emprestara as cores ao arco-íris? Seu coração cheio de amor ou o sorriso dos seus filhos?
De que cor será sentir? Da cor da infância? Da juventude? Da velhice? Cada um tem uma cor. Quem na infância se preocupou com as cores das coisas? Elas se faziam é claro pelos olhos dos adultos os quais sempre se preocupam em dar nomes e cores a tudo: um pai alegre? BRILHANTE. Um pai irado? PRETO, da cor da noite.
Qual a juventude sem momentos de doiradas alegrias, permissividades de todas as cores – dias azuis, tardes cor-de-rosa, noites maravilhosamente negras alcovitando os namoros mais ousados? Quem não sentiu o explodir colorido e mágico do primeiro beijo?
Depois, tudo passa. O sentir se define. È a cor do tempo, dos desgastes escuros da velhice. Misturam-se as tintas, surge um borrão, um borrão informe, misto de todas as cores. Quem poderá definir, depois de haver vivido, a cor exata do sentir?
Dos olhos da mulher escorreram lágrimas incolores.
Obs: Texto extraído do livro da autora – A Magia da Serra –