8 de março de 2008
Todo chamado é iniciativa amorosa de Deus. “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). Não fomos escolhidos por causa de nossos méritos, mas unicamente por causa da misericórdia de Deus. “Eu te amei com amor eterno.” (Jr 31, 3). Esta é a nossa segurança, nos lembra o profeta Jeremias. Deus nos ama com amor eterno. “Desde o seio materno o Senhor me chamou.” (Is 49, 1) nos recorda o profeta Isaías. Esta é a nossa vantagem: saber que fomos chamados e escolhidos por amor.
Esta consciência deve fazer brotar de nosso coração um canto que manifeste nossa infinita gratidão a Deus, “porque eterna é a sua misericórdia” (Sl 100, 5). Ele olhou para a nossa humildade.
Diante do mistério do chamado não podemos deixar de lembrar aquilo que é fundamental: Jesus Cristo é, para nós, o ponto de partida e o ponto de chagada, o princípio e o fim. Nele devem estar fixos nossos olhos. No encontro com ele está o sentido de nossa existência, pois, como ensina o Concílio, “Cristo veio revelar o homem ao próprio homem”. É no encontro com ele que nós sabemos o que somos, de onde viemos, para onde vamos. O encontro vital com Jesus Cristo nos introduz nas dimensões mais profundas da vida.
O Papa João Paulo II na carta Novo Millennio Ineunte ( no Início do Novo Milênio) nos ensina que o discípulo é aquele que vive contemplando o rosto de Cristo.
É Jesus que nos chama! É Jesus que nos escolhe! Sempre foi assim. Do encontro entre o chamado que Jesus nos faz e o desejo de segui-lo, brota a resposta cheia de fé e amorosa, que nos leva a assemelhar-nos a ele. A resposta que damos nos vincula a uma comunidade que nos ajuda, cada dia, a discernir a missão que Deus quer de nós, a discernir a vontade de Deus para nossa vida. E aqui está o segredo e, ao mesmo tempo, o desafio: Deus tem que ser o centro de nossa vida. Deus e sua vontade. Não nós e nem a nossa vontade.
Todos nós que fomos chamados experimentamos essa escolha como manifestação do amor de predileção de Deus. “Foi ele que nos amou primeiro.” (1Jo 4, 19).É certeza desse amor que nos fortalece para seguir Jesus Cristo conformando nossa vida com ele e colocando-nos a serviço dele na pessoa dos irmãos e irmãs, particularmente dos mais pobres e necessitados.
O chamado de Jesus é exigente. Sua escolha também. É preciso responder com toda a vida. Não podemos responder sob condição. Trata-se de uma resposta de amor a um chamado de amor que implica entrega da totalidade da vida. Essa é a dinâmica da vocação. “Somos chamados à perfeição da caridade.” (LG), como ensina o Concílio, isto é, à santidade. Esse chamado à santidade é para todos os batizados indistintamente.
O seguimento de Jesus inclui, necessariamente, a participação no caminho da cruz. Aí é também preciso identificar-nos com ele. “Quem não carrega sua cruz e não caminha trás de mim, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14, 27). No discipulado não podemos querer o caminho fácil ou caminho alternativo, pois no contexto do seguimento de Jesus eles não existem.
No caminho do seguimento a Jesus contamos com o testemunho de Maria, a primeira discípula que, consciente do amor de predileção com o qual Deus a amou, respondeu continuamente SIM, desde a Anunciação até o Calvário em total abertura e docilidade ao Espírito para, a exemplo do Filho, realizar a vontade de Deus.