caiu-me uma estrela ao quintal.
deve ter sido outra noite
quando houve tempestade.
não é das muito grandes
instalou-se em baixo de um jambeiro.
os pequenos da vizinhança
correram a brincar com ela:
subiram em suas pontas
esconde-esconde, pula-pula
até que Tomé, o mais levado
caiu e quebrou o braço.
reclamou-me, a sua mãe
“isso é coisa que se tenha no quintal!”
queixou-se à prefeitura
vieram cá uns fiscais
perguntaram sobre licença
pediram documentação
como não as tivesse
disseram que não podia tê-la
e levaram-na, a estrela.
está agora no depósito público
de onde só será liberada
se a constelação a que pertence
fizer um requerimento
ou se a Via Láctea em pessoa
falar com o dr. Almeida,
o diretor de posturas.
a menos que seja resgatada
à socapa, à cigana
por algum cometa apaixonado.
descontente com tais fatos
pus a casa à venda,
talvez mude da cidade.