Já fui bom folião:
pirata, confete
cigano, serpentina
índio, alcalóide
eu mesmo, alka-seltzer.
“Que palhaço mais triste!”
apontou na rua um garoto
(era de mim que falava);
desde então cansei
da alegria obrigatória
com hora marcada,
com data certa.
Já não sou bom folião:
aborreço o carnaval
(que é todo ano, igual)
embora goste do Galo
da Madrugada do sábado
quando encontra o povo ávido;
de Pitombeiras e Elefante
e do Bloco da Saudade
de Lenhadores, Batutas
de São José e outros tantos;
do Homem da Meia-Noite
do Bacalhau do Batata
e dos nomes curiosos
das troças da minha terra:
Lavadeiras de Areias,
Amantes das Flores,
Banhistas do Pina,
Cachorro do Homem do Miúdo,
Madeiras do Rosarinho…
Tudo isso me apraz
e não é só, e tem mais:
a la ursa, caboclinhos
com seus tristes tuiuís
batuque dos maracatus
(baque virado e rural)
frevos de bloco e rua –
Vassourinhas, esse hino
Evocação,tantos outros
(ai, meus tempos de menino
das matinês perfumadas
de onde sempre saía
com umas três namoradas
porém tudo se acabava
quando elas descobriam).
E também gosto do samba
principalmente o de bamba
tenha ou não mulher nua
além de, viva a Bahia!
trio elétrico, mas só ia
atrás do original.
De quase tudo, afinal
já deu pra notar que gosto
menos da hora marcada
do carnaval pontual
que assiste na tevê;
nem tampouco do show-biz
(não disse bis, e sim bi$)
que muitas vezes se vê.
Portanto, pra ser feliz
não precisa carnaval;
pra quem não tem alegria
inútil toda folia
mas, por mim, esses três dias
ditos de Momo, seriam
estendidos pelo ano
feito roupas num varal.
Domingo de carnaval de 2000.