Era ainda menino
Mas seu rosto estava carregado de preocupação,
Um suor cheio de agonia,
Tristeza, decepção.
Apesar do suor em seu rosto
O menino estava gelado, pálido.
Sem forças para falar de seu sofrimento,
Menino cansado, abatido.
Falou apenas uma frase antes de ser abatido pela fraqueza,
Era a fraqueza da fome,
Pois sequer havia tomado café,
Refeição quase sagrada para o ser humano.
Mas a fome é “amiga” da pobreza,
Covarde, traiçoeira.
E o menino caído,
Vencido pela fome.
Adormecido,
Um sono de quem não teve o que comer.
Ele, apenas um menino
Longe do pai e da mãe.
Pois não há pai ou mãe
Dentro da mais absurda pobreza
Que não chore por seu filho faminto
Na tentativa de ser solidário.
E o menino “órfão” de pai e mãe
Estava ali, caído.
O sono era seu único alimento,
Sua única esperança.
As pessoas olhavam o menino
Imaginando sua grande dor.
Uma criança com fome,
Fraca, incapaz.
Um menino sem o brilho de sua criancice,
Até isso a fome nos rouba
Transformando-nos em trapos humanos,
Reféns de nossa própria miséria.
Seu rosto era a linguagem da aflição,
Corpo esticado como um cadáver,
Vítima de tamanha desigualdade social.
Menino com a infância roubada.
Mas o menino não se deu por vencido,
Saciou sua fome com mingau.
Apenas mingau lhe foi necessário,
Mesmo assim é uma cena doída.
Ele, apenas menino,
Caído,
Com fome,
Fome que mata,
Maltrata,
Desnutre,
Enfraquece.
Ele, mais um menino pobre entre tantos.
Vencedor,
Guerreiro,
Criança.
Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Pedagogo e Especialista em Ciências Sociais, formado pela UFPA
Graduando do Curso de Química pela UFPA.