Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM)
Há pessoas que, mesmo falecidas, não morrem. Assim como há pessoas que já são mortos, embora ainda vivas. A morte e a vida no sentido mais profundo depende de como a pessoa conduz seu destino. Se vive só para si e até à custa do sacrifício dos outros, já morre.
Quem coloca sua vida a serviço de uma causa a bem dos outros viverá muito além de seu corpo vivo. A lista dos que vivem além da morte física é grande, e maior ainda é a lista dos que morrem e desaparecem, ficando apenas um nome no túmulo, que ao longo dos anos perde o significado.
E mais sério é que os tantos que vivem cheios de bens e até de poder já são mortos por não contribuírem ao bem dos outros. Na Amazônia, há vários nomes que vivem e viverão por séculos, porque deram suas vidas a serviço dos outros, seja na defesa da natureza, seja pelo bem de pessoas.
As páginas da história da Amazônia, tanto no passado, quanto nos tempos recentes têm vários nomes que honram o gênero humano: Chico Mendes, Ezequiel Ranim, Jozino, irmãos Canuto, Paulo Fonteles, vários líderes sindicais, como o jovem Brasília, de Novo Progresso, e Irmã Dorothy Stang.
Enquanto seus assassinos e mandantes são vivos-mortos, com nomes que desapareceram com o tempo, a irmã Dorothy vive e viverá como honra do gênero humano, como ainda vivem Zumbi dos Palmares, Ajuricaba, Marechal Rondon, Evandro Chagas e tantos e tantos outros.
Irmã Dorothy, a mulher audaciosa, com 74 anos, não cruzou os braços, não viveu para si e, porque defendia a Amazônia e os pobres da região, foi ceifada brutalmente pelo egoísmo de poucos, para os quais o lucro vale mais do que a vida alheia. Pura ilusão. São mortos-vivos, escória da humanidade.
Dorothy vive e viverá muito tempo.