A apoteose de Maragogipe

Maragogipe viveu dias de glória com a festa do seu padroeiro, S. Bartolomeu. Essa festa é mais do que centenária. Desde o tempo das sesmarias , que seu donatário, Borba Gato, deu a essa terra o nome do seu santo protetor.A igreja matriz foi construída de 1630 a 1753. No dia 1° de agosto teve início a preparação com orações especiais, no dia 5 houve o bando anunciador, dia 12 foi a grande lavagem do templo. Daí por diante teve lugar a novena : dia 17 teve como pregador Pe.Francisco Carlos com o tema : Discípulos de Jesus Cristo. Dia 18, o pregador foi Pe. José Oliveira, com o tema :Discípulos para fazerem discípulos de Jesus Cristo. Dia 19 o pregador foi o Pe Elmo Andrade com o tema : Discípulos para fazerem apóstolos de Jesus Cristo. Dia 20 o pregador foi Pe. Antonio Rebouças com o tema :Discípulos hóspedes na casa do irmão. Dia 21 o pregador foi Pe. Edmilson Santos com o tema: Discípulos – apóstolos para todos. Dia 22 o pregador foi Pe. Reginaldo Almeida com o tema: A Igreja chamada a ser a grande mensageira de Jesus Cristo. Dia 23 o pregador foi Pe. Reinaldo Balbino com o tema : Caminhando com Jesus. Dia 24 o pregador foi Pe. Mateus de Lima, com o tema : Cristãos que evangelizam os outros irmãos. Dia 25 o pregador foi P. Sebastião Heber, com o tema : Bartolomeu, o grande discípulo de Jesus Cristo. Nessa ocasião salientei o chamado de Bartolomeu que também se chamava Natanael. Aliás, grande parte da população se chama Bartolomeu e nos nossos dias há muitos cognominados por Natanael. Esse segundo nome significa “dom de Deus”. E Bartolomeu, segundo o Evangelho foi introduzido ao conhecimento de Cristo, através de outro apóstolo chamado Felipe. Este cheio de entusiasmo, mostra que encontrou o Messias prometido e esperado há séculos e que Ele vinha de Nazaré. Quando Bartolomeu ouve o nome dessa cidade, espanta-se e deixa escapar:”Pode vir coisa boa de Nazaré?”. Esta era uma cidade insignificante e esperava-se um Messias vindo com uma grande importância externa. Mas Cristo se aproxima dele e diz que o viu quando estava debaixo da figueira conversando com Felipe. Isso demove o apóstolo que proclama numa irrupção :”Tu és verdadeiramente o Messias prometido, o filho de Deus”.

Na verdade, daí por diante , ele integrou o grupo dos primeiros discípulos, chamados de apóstolos.Há nessas escolhas de Cristo, com relação aos seus discípulos, uma tônica única : tudo é consequência da Graça de Deus, tudo é “dom de Deus”.
E sabemos que para ser discípulo, é necessário haver um mestre – ninguém é discípulo de si mesmo. O discípulo é um colaborador próximo na nova ordem de coisas que Cristo veio trazer. E a pergunta básica que podemos fazer é : como ser discípulos hoje, como o foi Bartolomeu e os demais apóstolos? Certamente o caminho é de tomar consciência que é participar dos empreendimentos que querem livrar o homem de todo o mal, de tudo que ameaça a promoção humana. E como é fácil detectar essas áreas tão vulneráveis na nossa sociedade. Nessa aspecto, há imensos desafios para todos os homens e mulheres de boa vontade, mas de modo especial para aqueles que crêem. Os males da nossa sociedade estão assentados em duas pilastras: o egoísmo e o desejo desenfreado de poder. Não precisa ir muito longe para percebê-los: a mídia está transbordando de mensalões , de corrupções , de apego ao poder, de enriquecimento ilícito, tudo em detrimento do bem público. Constata-se que cada vez mais os pobres ficam mais pobres e os ricos mais ricos.

O programa da festa de S. Bartolomeu, feito pelo Pe. Reginaldo Almeida Morais, vigário da cidade, trouxe informações preciosas.Lá se diz que não se sabe muito sobre a vida missionária de Bartolomeu, mas há uma tradição que o coloca na Armênia, tendo essa região sido evangelizada. De qualquer forma, nesse país, que até a queda do Muro de Berlim esteve sob a orientação comunista, lá há uma tradição cristã que remonta aos primeiros séculos do cristianismo e eles têm uma liturgia com ritos particulares. A tradição vê todos os apóstolos como mártires. Bartolomeu não poderia ter tido outro destino. Foi morto cruelmente, tendo sua pele sido retirada e depois decapitado – por isso ele é considerado padroeiro dos curtidores e até dos encadernadores.

A Missa do dia da festa teve como pregador o Pe. Sadoc, que anualmente vem abrilhantar aqueles festejos. Não é necessário salientar que tanto na novena como no dia da festa, a igreja estava superlotada. Pe. Sadoc teve seu sermão interrompido cinco vezes por aplausos incessantes. Mas o ponto máximo foi quando ele lembrou Moisés, no livro do Êxodo, ao receber a revelação de Deus através da sarça ardente, ouviu uma voz que mandou-o retirar as sandálias, pois ali era uma terra santa.O ilustre pregador usou esse recurso dizendo que ao chegar próximo à cidade, sempre , ele próprio, retirava espiritualmente as sandálias, pois Maragogipe era um terra sagrada – o povo entrou em delírio quando ele fez essa comparação.
Durante a Missa foi outorgado ao Pe. Mateus de Lima Leal, que é o vigário cooperador, o título de Cidadão Maragogipano. Estavam presentes o Presidente da Câmara, António Roberval, o prefeito Sílvio Ataliba e outros vereadores. Nessa ocasião, as autoridades do município,e a sra. Rosa Roque, representante da Paróquia, tendo tomado conhecimento do livro “Boa Morte, das memórias de Filhinha às litogravuras de Maragogipe”,recentemente publicado, manifestaram o desejo de fazerem um outro lançamento naquela cidade.No livro há um registro de gravuras de 1879, que registram que houve lá a Irmandade da Boa Morte.
Passada a festa, os habitantes de Maragogipe já começam a planejar como serão as homenagens do próximo ano ao seu santo Padroeiro.

É prof. de Antropologia e é membro do IGHB e da Academia Mater Salvatoris. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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