Impressiona-me a quantidade de escritores que transformaram o ato de escrever em uma nova dimensão, um grito de ser…
Orhan Pamuk, ( 54 anos, Prêmio Nobel de Literatura 2006) simplesmente diz:”… a escrita é uma forma de terapia e necessito escrever todo dia. A escrita nos salva da loucura.” (entrevista à Revista EntreLivros, nº 23/2007)
Quando a escuridão explode na alma, a poesia tende adormecer o colorido do olhar e já não sabemos decifrar o gorjeio dos pássaros…
De repente percebemos em nossas mãos abertas o vazio do nada, a fuga do tempo, a muralha do silêncio…
Na agonia enclausurada perdemos o contacto com as flores e as janelas apressadas refletem umidade no abandono insustentável…
Contemplo a dor na aparência de condenação…
Penetro na exaustão suada de labirintos a desafiar nossos passos…
Partilho trágicos sentimentos e no imprevisto da partida apressada consumo o desejo e constato ser a paz a continuidade do que sempre habitou no drama insolúvel de uma melodia a encerrar buscas e ocas palavras, desdentadas e opacas…
Na entrega de sonhos resta-nos abraçar a vida sem receios de arranhar lágrimas, ferir lábios ardentes, beber uma consciência liberta, luta comprometida…
Arranco da saudade o amor na experiência solitária da totalidade…
Ignoro a luz fraca e prossigo na (im)possibilidade de vislumbrar ainda uma vez tua alegria transbordante…
Oscilo no infinito e a febre fragiliza as pulsações de veias inflamadas…
A razão soluça…
A distância esbarra na travessia interditada ignorando o absurdo condenado, obsessão impregnada, dados marcados, estranhas sombras perfumadas…
E continuo na aparência das circunstâncias…
No propósito da transparência toco a brevidade do momento e tua face cicatriza o amargo descontentamento e a certeza de que nada conseguirá atropelar a beleza da vida…
13.07.2007