Entre o Presidente Lula e o Bispo D. Luís não pode haver diálogo. Os dois defendem projetos antagônicos e, como se sabe, dois bicudos não se beijam. O nascido em Pernambuco veste a camisa de um modelo de desenvolvimento, patrocinado pelo capital, onde o povo é beneficiário e seu método é autoritário com viés populista. O nascido em São Paulo se entrega por um modelo de desenvolvimento cujo centro é o social, onde o povo é protagonista e que tem como método o convencimento e a participação de todos os atores envolvidos.

Aprendemos que diálogo é a palavra que vai-e-vem. Por isso, diálogo exige que:
1. As pessoas tenham “suas verdades” – Significa que duas pessoas, olhando o mesmo copo de água, podem afirmar que ele está meio vazio ou meio cheio e não estar blefando. São gente sincera que miram a partir de um ponto e se baseiam no chão onde seus pés pisam. Quando posturas e palavras dão a impressão que temos a verdade completa, matamos pela raiz qualquer possibilidade de diálogo.

2. As partes se respeitem – É preciso que os diferentes lados tenham a mesma disposição e estejam imbuídos do mesmo propósito. Senão, vai funcionar a esperteza de falar da boca pra fora com palavras pra inglês ver que usa a ingenuidade de quem acha que a raposa vai cuidar do galinheiro. O diálogo “verdadeiro” só acontece se as pessoas acreditam na soma de potenciais e que, sendo diferentes não são desiguais, são paritários.

3. Pessoas com objetivo comum – Isto significa que as pessoas seguem na mesma direção, ainda que, até agora, por caminhos diferentes. Podem ser companheiras porque são capazes de repartir o pão, de pensar juntas e decidir ser parte de uma mesma trajetória. A água não se mistura com o óleo e a panela de ferro sempre vai quebrar a panela de barro. Quando alguém reverencia e se referencia na elite, nunca vai dialogar com quem opta pelos pobres. No máximo, farão o pacto da mediocridade – um faz que diz e o outro finge que acredita.

4. Um intercâmbio profundo – Quando alguém veste e incorpora a personagem do superior ou, ao contrário, se humilha como vítima inferior, não vai dar samba. Pois, o diálogo é uma troca de experiência, de pensamento e de sentimento entre pessoas que se encontram. Nesse encontro, elas se conversam, se completam, se convertem e, por consenso, também se apartam, se não é possível negociar as diferenças.

5. A prática do convencimento – Convencer, na metodologia autoritária, é impor um ponto de vista para alguém que foi dominado e que aprendeu a obedecer e a reproduzir idéias, modelos e valores. Para os populistas convencer é manipular, é vender gato por lebre, é vencer por meio de ardil, de marketing, de ilusão. O “verdadeiro” convencimento é um processo onde não há perdedores e vencedores; todos vencem porque a causa de todos é que vence.

Em resumo – para o diálogo é preciso:
 Distinguir o que é convicção, portanto, o que não se pode abrir mão.
 Juntar concordâncias e convicções que as pessoas já possuem.
 Conhecer e negociar diferenças/ divergências que não são princípios

No caso do Lula e do Bispo – ou das causas coletivas que defendem – não pode haver diálogo. Há xingamentos mútuos, pressões, conversações educadas, negociação de apêndices… Não há diálogo porque existe uma divergência de fundo radical e intransigente. É uma disputa de projeto e de visão de mundo diante da qual é preferível morrer (física ou politicamente) do que ceder. Só termina quando uma das partes vencer ou for eliminada. É, como um jogo de xadrez, o que há é uma relação de força entre imperadores, governos, cavalos, bispo e peões. Qualquer melhoramento da proposta não significa convencimento profundo. São apenas “vitórias” ou táticas para entregar o anel sem perder o dedo ou como uma cunha que permite seguir lutando, até que se mude a correlação de forças.

dezembro de 2007.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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