Uma meiga tecelã morreu cantando
Com os olhos pousados sobre as mãos.
Nunca lera um poema de Rimbaud,
Nem sentira desejos de viagens,
Mas sentira desejos mais humanos.

Mãe, pai, noivo e filhos,
Toda uma vida que não foi
A meiga Margarida tecelã.

Teu ventre sonhou mistérios
De noites inconfessáveis
No tear a tecer tecidos, sonhos,
Em umas mãos borboletas, proletárias.

Tantos sonhos desejados,
Tantas noites sem dormir,
A meiga Margarida tecelã.

Foi menina muitas vezes,
Tecendo fios, lembranças,
Fazendo tranças tão louras
No seu doce menino que não teve.

Uma meiga tecelã morreu cantando.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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