20 de fevereiro de 2011
A cena se passa em Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul, na loja de uma fábrica. Adquiro uma camisa do Internacional. Enquanto pechincho no preço, ouço, de um torcedor do Vitória, da Bahia, que, com aquela camisa, eu estava bem equipado e não precisava de outra. Apresso-me para esclarecer que, naquele momento, trajava uma camisa do Vitória. O torcedor baiano ficou feliz ao ver a camisa do seu time em plagas tão longínquas de sua aldeia.
Passou. Em outro episódio, estou na Av. Santa Fé, em Buenos Aires, com a camisa do Campinense, de Campina Grande. Numa loja, enquanto os meus faziam compras, acompanhava na porta, o movimento de carros e pessoas. O segurança puxa conversa, o futebol como centro. Reclama de Maradona como técnico da Argentina, mas não aceita Dunga – que lhe ofereço – em seu lugar. Depois, pergunta se a minha camisa é do Flamengo. Não é. Ele se atrapalha, por não ter noção da Paraíba como estado brasileiro. Problema dele.
Depois, em outro dia, prestigio a camisa do Treze, também de Campina Grande. Desta vez, na Via Florida, perto do hotel onde estou hospedado. Percorro a rua, em passada lenta, para apreciar todos os produtos colocados à venda pelos vendedores que tomam conta do logradouro. Os objetos são os mais variados possíveis – chapéus, olhos, camisas, brinquedos de crianças, cinturões, bolsas, quadros, etc. e etc. -, o que dá um colorido especial.
A camisa do Treze desperta a dúvida de um argentino. É do Santos, me pergunta. Não. Mas é igual, argumenta ele. Sim, pelo branco e preto, pelas listas, e, aí aponto o Atlético mineiro, o Botafogo, o Ceará, etc. e etc, com as mesmas cores e formato, a exceção do escudo. Depois, na mesma rua, um dos vendedores me pergunta, curioso, de que time era aquele.
Em outro dia, foi a vez da camisa do Itabaiana, em tour por Buenos Aires. Estamos em Caminito, numa loja. Um brasileiro, despertado pela camisa, me dirige a palavra com um cumprimento de quem conhece Itabaiana. Sou chamado de comedor de cebola. Ah, sim, ceboleiro é o termo utilizado para denominar o itabaianense. Ou como comedor, ou como plantador. Não é lá muito agradável, mas me mantenho risonho e arremesso minha pergunta. E você é de onde? Resposta: de Lagarto. Devolvo o cumprimento: diga, papa-jaca. O povo de Lagarto sabe o significado. Estamos empatados.
Foram as únicas manifestações de atenção que as camisas despertaram. No mais, usei a do Asa, de Arapiraca, em Escobar, no zoológico Tewairen. Ninguém, absolutamente ninguém, prestou a menor atenção. Nem nenhum dos animais, entre os muitos ali mantidos, também teve algum gesto de interesse ou de curiosidade.
De qualquer forma, continuo com a bandeira de ser o único brasileiro a usar camisas dos times nordestinos em suas viagens. E abro um espaço para um aviso: aceito doações, tamanho G. Com o compromisso de, após, contar o ocorrido, aqui mesmo. É só viajar.
Publicado no Diário de Pernambuco
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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