Djanira Silva 29 de dezembro de 2007

Barulho de chave. Ranger do portão. Os movimentos de sempre. É ele.
Entra. Sentada na sala leio o jornal. O televisor ligado. Olha, não me vê. Passa como se me atravessasse. Assim, todos os dias.
O olhar de ausência me incomoda.
Seis horas. O sino, o Ângelus. Ave-Maria de Gounot. Flores, velas, vestido branco. Passos leves. Orações, enganos, promessas. “Promete amá-la e respeitá-la?”
Atravessa a sala. Passos pesados. Arrasta correntes, grilhões.
A tarde ainda não findou. Cheia de graça e fé.
“Na doença e na saúde?”
Entra no banheiro. Leva o silêncio. Volta com ele.
Sentamo-nos à mesa, ignorando um ao outro. Rumina, remói, engasga.
O Senhor está entre nós.
“Até que a morte os separe”?
A Ave Maria agoniza:
“Agora e na hora, da nossa morte”.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]