Sua púrpura de Cardeal foi ensangüentada pelas duas ideologias de direita e de esquerda: o nazismo e o comunismo. Nasceu num vilarejo da Hungria em 1892 e tinha o nome Jozsef Pehn. Educado no amor à Virgem Maria, coroinha, chegou à convicção de que não existe nada de maior e mais belo neste mundo do que oferecer ao Pai o sacrifício infinito de Jesus no Altar e anunciar o Evangelho aos irmãos. Por isso, ordenou-se sacerdote de Cristo em 1915, quando a Europa estava em chamas pela I Guerra Mundial. Pároco aos 28 anos, foi extraordinário organizador de escolas e centros de catequese, convicto de que os novos tempos do pós-guerra exigiriam cristãos cultos e fortes na fé. Ferrenho opositor do nazismo, deixou seu nome de origem alemã Pehn e assumiu o nome de sua aldeia natal, Mindszenty.
Em 1944, o papa Pio XII nomeou Jozsef Mindszenty Bispo de Veszprem, dominada pelos nazistas, já em plena II Guerra Mundial. Ali, se empenhou em proteger os judeus do ódio nazista, dedicar-se aos pobres, organizar jornadas de oração para seus sacerdotes e promover as visitas às famílias e assistir aos doentes. Já tendo sido preso pelos comunistas, como padre, foi preso uma segunda vez pelos nazistas. Quando os russos invadiram a Hungria para “libertar” o país, como diziam, ele foi nomeado Arcebispo de Esztergom e Primaz da Hungria. “Quero ser um bom pastor, – dizia no dia 8 de dezembro de 1945 ao iniciar seu novo serviço – um pastor pronto para dar a vida pelo seu rebanho.” Mindszenty logo organizou socorro para os famintos – os comunistas bloquearam. Começou a proteger prisioneiros e doentes – os comunistas lho proibiram. Organizou a Escola católica e as associações de Pais – os comunistas nacionalizaram o ensino. O Primaz mandou os sinos de todas as igrejas do país dobrar a finados.
Criado Cardeal em 1946, recebeu a púrpura vermelha, que seria para ele o sinal do sangue derramado pelo amor de Cristo e de seu povo húngaro. Criou novas paróquias, organizou grandiosas peregrinações, a mais famosa ao Santuário nacional da Hungria, com cem mil pessoas. No Ano mariano de 1947, por ele proclamado, marcou presença nas celebrações uma multidão calculada em cinco milhões de fiéis. Os comunistas ficavam loucos de raiva. Rakosi, o procônsul de Stalin em Budapest, atacava o Cardeal com fúria inaudita. Mindszenty permanecia impávido como o carvalho na tempestade. Quando rezava em sua capela, no dia 26 de dezembro de 1948, foi levado prisioneiro por um coronel da polícia para uma série de torturas e humilhações. A todo o custo, a polícia queria que ele se declarasse “inimigo do povo”. Após 39 dias de suplício, pôs sua assinatura numa declaração extorquida pela violência, acrescentando após sua firma as letras C. F. com as quais queria dizer a frase latina cactus feci – “fiz coagido”. Com um processo de farsa, condenaram-no à prisão perpétua. Rezava continuamente a Nossa Senhora pelo seu povo, pelos jovens, a fim de que não faltassem sua fidelidade a Cristo até o sangue. Na breve insurreição de outubro de 1956, pôde fugir da prisão e refugiar-se na embaixada americana, onde permaneceu numa vida de silêncio, oração e oferta de si mesmo a Deus pela Hungria e toda a Igreja. Finalmente, em 1971, Mindszenty, por vontade de Paulo VI, pôde chegar livre a Roma, onde o Papa o cumulou de honrarias como o mártir vivo da púrpura ensangüentada pela fidelidade a Cristo e à fé cristã. A 6 de maio de 1975, de Viena, partiu para receber a coroa eterna da glória. Só após a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento do comunismo real, seu corpo foi sepultado em sua Catedral de Budapest, onde foi homenageado pelo Papa João Paulo II em sua visita à Hungria.