D. Edvaldo G. Amaral 22 de junho de 2007

Arcebispo emérito de Maceió.

O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) deixou como obra póstuma seu famoso livro de memórias “Confieso que he vivido” (1974),que teve aceitação universal, retratando a vida como uma tarefa arriscada e exigente.

O Reitor Mor dos Salesianos, Pe. Pascual Chavez, deu como programa-lembrança para 2007 este pensamento: “Deixemo-nos guiar pelo amor que Deus tem pela vida”. E convida os membros da Família Salesiana a assumir a vida como dom inviolável e promovê-la como serviço responsável.
O Santo Padre Bento 16 convidava o clero de Roma na Quaresma do ano passado a refletir: “Creio que é esse o núcleo central de nossa pastoral -ajudar a fazer uma verdadeira opção pela vida, renovar nosso relacionamento com Deus como relação que nos dá vida e nos mostra o caminho para a vida.”

Já o saudoso e sempre querido João Paulo II em sua encíclica “Evangelium Vitae” (O Evangelho da vida) afirmava categoricamente: “A vida do homem é um dom pelo qual Deus participa algo de si com a criatura humana” (nº 34).
Da primeira à última página, a Bíblia nos apresenta o Senhor como o Deus da vida. Esse Deus da vida é o Deus dos pobres, o Deus da justiça, o defensor dos fracos. Esse Deus da vida encarnou-se em Jesus, a “Palavra da Vida” (1 Jo 1,1). Para Jesus, a vida é dom precioso, mais que o alimento (Mt 6,25), mais que o sábado (Mc 3,4). Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos (Mt 12,27). Jesus é o Pão da vida, a luz da vida, caminho, verdade e vida, ressurreição e vida.
Esta vida crucificada é, para os que crêem, a revelação suprema do amor de Deus pelo homem e da sua estima pela vida humana: é o Evangelho da Vida! É São João quem nos adverte em sua primeira epístola: “Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte” (Cap. 3, vers.13).

Vivemos uma cultura da morte. São as guerras. É o aborto. A eutanásia. É a fome e as doenças endêmicas que dizimam as populações pobres da África subsaariana. Contra essa cultura da morte, a Igreja de Jesus brada: Não à morte, Sim à vida!

Ser velho significa, então, ter vivido. Ser velho é ter recebido, com abundância e generosidade divina, o supremo dom da vida.
Mas, com o poeta chileno, o velho tem que reconhecer que viveu, isto é, que tem a grande responsabilidade de ter vivido. A vida é dom, tarefa e exigência. A vida é uma tarefa, e tarefa difícil e exigente, da qual devemos prestar estritas contas a Deus.
Ao completar 80 anos de idade, ao tempo em que rendo infinitas graças ao bom Deus que me concedeu tantos anos de vida, peço perdão de minhas fraquezas, de minhas omissões, de minhas faltas de coragem e dedicação, de meus momentos de orgulho e presunção. Olho para trás e vejo tantos que me fizeram chegar até aqui, os amigos que estiveram sempre ao meu lado. Penso na responsabilidade, nas contas que devo dar ao Deus da vida por tudo que recebi dele, pelo que fiz e pelo que não fiz, pelos erros cometidos.
Confesso que vivi…

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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