O santo que mais se pareceu com Jesus

S. Francisco mantém uma atualidade fundamental para os nossos dias. Sua popularidade é diferente da de outros santos. Stº Antônio, por exemplo, tomou o coração dos brasileiros, é super popular na sua terra natal, Portugal, e é reverenciado no mundo inteiro. Ele e tantos outros, como S. Judas Tadeu, estão todos identificados com obras milagrosas, prodígios com obras de um taumaturgo. Mas com Francisco é diferente. Ele é o irmão universal. Ele é de todos, de crentes e não crentes. Seu valor não provem pela importância de ser invocado para tal ou qual causa ou determinada situação. Sua especialidade é ser irmão, ser pobre, amar a todos, as pessoas, os animais, o sol , a lua, a natureza.

Podemos ter dele duas leituras. A da história, sua família, a criação dos franciscanos, sua vida em Assis, a importância de Clara no seu trabalho. Mas, de outro lado, há os Fioretti, seus florilégios, isto é, uma versão popular sobre sua vida, que relatam detalhes de sua atuação e que contêm um sabor revelador do que ele realmente foi e viveu.
Os Fioretti são uma tradução do século XIV de uma obra latina dos franciscanos;alguns pensam que pode ser coletiva e que descreve a vida de S. Francisco e dos primeiros franciscanos. Pouco depois da morte de Francisco e dos primeiros franciscanos, Frei Ugolino de Montegiorgio teria reunido, em latim, os episódios mais importantes desse famoso personagem histórico. Mas o Floretum de Ugolino se perdeu. Todavia, parece que, dessa obra, derivam os Acti Sancti Francisci et Sociorum Eius que, em parte, foram traduzidos e que deram lugar à redação toscana conhecida com o título “Fioretti de S. Francisco”.

Nessa obra, o santo é apresentado na sua humanidade : vivo é o diálogo entre Francisco e o Irmão Leão que procura definir a perfeita alegria; vivo é o santo que mostra ao Irmão Macceo a verdadeira pobreza na mísera mesa concedida pela Divina Providência; viva é a prédica aos pássaros, palavras que transformam em ardor de fé e entusiasmo humano para irmanar todas as criaturas de Deus; vivo é o ferocíssimo lobo que responde como pode – com o movimento da cabeça, da cauda, das orelhas, e das patas – às exortações do santo e, “convertido”,entra em cada casa para receber alimento e sorriso dos homens que, antes, devorava. Num estilo simples , essas páginas demonstram que na vida não é suficiente apenas a força física e a vontade de ação. É preciso, sobretudo,a força de vontade , da paciência, da tolerância, da humildade, a doçura do sorriso , sobretudo , da fé.

Conversando com Pe. Sadoc sobre esse santo padroeiro da Casa de Retiro, lá em Brotas, onde ele almoça cada ano no dia da S. Francisco – 4 de outubro – ele disse espontaneamente uma palavra da qual me apropriei para colocá-la como título desse artigo: “O santo que mais se parece com Jesus”. E, de fato, cada santo teve sua feição peculiar que o engrandeceu. O que mais caracteriza S. Francisco é a idéia da imitação de Cristo. A meditação sobre o caminho da simplicidade mostrou que Francisco se esforçava por conformar sua vida em tudo à do Homem-Deus.

Francisco não entendia a imitação de Cristo como um modo, entre muitos outros, que o homem pudesse seguir. Ele estribava-se na palavra de S.Pedro quando diz que o Senhor “nos deixou um exemplo para que seguíssemos os seus passos” (1 Pe. 2,21). Essa graça de viver a vida de Cristo numa assimilação singular o alçou a receber do Papa Pio XII o elogiou de ser um “alter Christus”, isto é , de ser um segundo Cristo.

S. Francisco é o irmão universal e ele traduz essa sua vocação e sua sintonia com a criação quando compõe O Cântico do Sol, quando estava doente na igreja de S. Damião.
Eis o hino:

Altíssimo, Onipotente, bom Senhor, Teus são o louvor, a glória e a honra e todo bendizer.
A ti somente são devidos,E homem algum é digno de sequer nomear-Te.
Louvado sejas meu Senhor
Com todas as tuas criaturas,Especialmente o senhor irmão sol, pois ele é dia
E nos ilumina por si. E ele é belo e radiante com grande esplendor.
E porta teu sinal, ó Altíssimo.
Louvado sejas , meu Senhor, Pela irmã Lua e as Estrelas, No céu as formaste luminosas e belas.

Depois de louvar o Senhor pela água, pelo fogo,pela terra, pelos que perdoam , pelos que suportam enfermidades, ele, finalmente, louva o Senhor pela irmã morte, a morte corporal, “da qual ninguém escapa”.
Dessa forma, ele é o santo que mais se pareceu com Jesus Cristo.

Professor de Antropologia Na UNEB, na Cairu, na Faculdade 2 de Julho. É membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris e colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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