De tua lira aprendi
O circunspecto viver,
O esboço do sorriso,
A boa galhofa mineira.
Aprendi, também,
Que o poeta se engaja
No sonho e no concreto
Viver, de mágoas e espantos.
Aprendi, ainda,
Que o poeta constrói,
Com alicerces de invenções
O leve edifício dos afetos.
Do seu doce viver
Mitigo o riso e o pranto,
A calma transparência com que andas
A distribuir solicitudes pelas ruas.
Guardo ainda de ti
Cinquenta anos de poesia
Desilusões e controvérsias,
Que estancam na palavra embriagada.
No aparente sem-sentido,
Daquela pedra no caminho,
Há qualquer coisa de Carlitos
A brincar com o seu bigode.
E no teu viver secreto
Muitos sonhos tu plantaste,
Convivendo com as palavras,
Numa luta desigual.
Mas vencendo a teimosia
De palavras rancorosas,
A vida com o seu mistério
Se desnuda no amanhã.
E se um fingidor tu és,
De um fingir que tange a lira
O que inventas fingindo
Se desmancha em fantasias.
Comove-me o teu dizer,
Nesse ritmo que é só teu,
Traduzindo a mágoa eterna,
No seu mentar permanente.
Movido por gratidão,
Por ternura e doce afeto,
Agradeço o teu sonhar,
Comovido em meu silêncio.