Ser feliz!… É a aspiração natural que empolga o coração do homem, mesmo o mais rude e inexperiente. Esse desejo puramente humano e inextinguível nasce logo ao desabrochar maravilhoso da nossa compreensão, até então, envolta carinhosamente pelo mais cândido e encantador manto de nossa infância, tão pura, todo inocência e de que jamais nos esqueceremos. Mas, esse febril anhelo de ser feliz, não conhece restrição, sua “meta fixada” está bem longe, cresce e cresce sempre, parecendo muitas vezes querer devorar-nos tamanha é a violência desse ímpeto tão natural e tão justo; ele acompanha também a inteligência nas suas diversas fases de desenvolvimento e perfeição e é companheiro fiel e inseparável durante toda a nossa peregrinação através de estradas íngremes, pedregosas, difíceis no decurso do tempo que constitui uma existência, existência essa que é como a flor que logo murcha, logo se acaba…

Ser feliz!… É tal cume de alta montanha que o pobre e aflito viajante, distante já, divisa no horizonte, naquela travessia penosa que se vê obrigado a fazer. Porquanto, possuir a felicidade é a vitória única que se tem em mira e o ponto culminante que prende fortemente a nossa atenção, como recompensa de todos os esforços constantes e espinhosos, obstáculos tremendos que o homem herói transpõe, vencendo destarte as dificuldades másculas que se lhe apresentam e contrariando assim sua natureza desenfreada, astuta e comodista!

Ser feliz!… É ainda como um outro anjo da guarda que orienta benfazeja e interessadamente os atos e deliberações que constantes e inevitáveis surgem e, ademais, refreia muitas paixões desregradas e desejos satânicos, priva-nos de prazeres e ocupações ilícitas, pois, somente assim, subtraindo-se ao mal, pensa o homem ávido de felicidade: serei sim, serei feliz!

E por que não ser feliz? Pergunto eu. Será a ausência de riqueza, amizades, beleza e mais coisas inseguras, incertas, que o homem de espírito minúsculo, de ideais restritíssimos ambiciona e quer ser senhor custe o que custar, que me privam de possuir aquilo que é a razão de ser de minha vida?!…

Oh!… não!… e sempre não!… A felicidade não é uma fada misteriosa nunca encontrada, uma suposição irrealizável, conforme muitos o admitem, pois, nada mais real, concreto e sensível a supera. É ela qual linda flor que no jardim domina e encanta e é sabedoria da ambição de todos em possuí-la, porém, por mais valiosa que seja, ela não vai ao encontro daquele que a deseja, e nem podia ir, mas espera paciente e altiva que um alguém qualquer com carinho colha-a e, assim como ela, meiga e generosa, se entrega ora às mãos grosseiras do jardineiro que lida com a dura terra, ora às débeis mãos da donzela rica; assim também a felicidade é minha, é sua e de todos nós.

O que é enfim felicidade? Felicidade é a calma que se goza em servir à nossa consciência pura e amiga, é o ser fiel a nós mesmos. E por que os homens inquietos a procuram e não a encontram? Porque… digamos como o poeta, “porque a felicidade está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos.”.

(autora de Retalhos do Cotidiano)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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