Há quase 20 anos (desde 1987) que a Coluna Religião, nas informações sobre o Catolicismo, vinha sendo mantida assegurada pelo Pe. José Pereira de Souza, chamado por todos, de modo informal e fraterno de Pe. Pereirinha, ou simplesmente de Pereirinha, pelos mais próximos. Agora ele nos deixou (05/07) e recebe na casa do Pai a recompensa dos justos que ele sempre foi. O coordenador Arquidiocesano da Pastoral da Comunicação, Pe. Manoel de Oliveira Filho, continuando esse apostolado jornalístico, convidou uma equipe integrada por padres, religiosas e leigos, para cada um, na sua área e com o seu carisma, para dar continuidade a esse espaço tão importante para a pregação e vivência da Boa Nova.
Antes do Pe. Pereirinha essa Coluna foi mantida pelo Pe. Manuel Soares, capelão do Colégio S. José do Bonfim; lá ele tinha uma irmã religiosa que fora superiora daquela comunidade.
Houve interregnos na Coluna, nos quais houve a presença do Mons.Walter Magalhães, que, alem de ser atualmente capelão da Vila Vicentina, é o autor da obra clássica Pastores da Bahia. Também o historiador que foi pároco da Conceição da Praia , Pe. Manuel Barbosa, deu também sua contribuição à Coluna.
Pe. Pereira foi uma presença nessa Coluna, mas além de teólogo foi um ilustre professor, pesquisador da Ufba na área de biologia. Ele fez mestrado e doutorado na USP e talvez tenha sido o único padre em Salvador que tenha obtido esse título acadêmico. Tanto que seus artigos refletiam esse perfil de um homem multi e polivalente. Ora tínhamos artigos teológicos, ora devocionais, outras vezes eram informações sobre eventos religiosos e culturais, e tantas vezes, havia artigos científicos criando uma ponte entre teologia e ciência. Lembro-me de alguns artigos sobre um tema que fora tão polêmico para o Catolicismo e ainda hoje é para alguns grupos religiosos – é a evolução. Há alguns títulos significativos saídos recentemente : Será preciso rever as Leis de Mendel, A evolução das espécies, A evolução tem sentido? Diz ele :”Só modernamente se deu valor à descoberta de Wallace e se associou seu nome ao de Darwin porque também ele descreveu o que chamamos hoje evolução. E isto não vai contra a Bíblia? Não. A Bíblia é um livro religioso. A descrição poética da criação do mundo e dos seres vivos que nele habitam em nada se opõe às possíveis informações dos cientistas.Moisés serviu-se de informações da Mesopotâmia, sobretudo o célebre poema de Gilgamesh expurgou dessas tradições o politeísmo para que a verdade de Deus Todo-Poderoso sobressaísse em tudo. A descrição da criação em sete dias não é mais do que uma poesia. (…) É muito mais lógico pensar que Deus, a partir de algumas células, talvez de uma, deu origem a toda esta diversidade.” (A evolução das espécies, A Tarde, 28/08/04).
Aqui na Bahia o Pe. Pereirinha chegou em 1945 e fora ordenado padre em 14/09/41 na cidade de Braga. No livro sobre Mons Sadoc – Pe. Sadoc, 90 anos, pároco, orador e amigo- ele conta como conheceu esse padre baiano do qual ficou amigo pessoal e também conta seu início aqui na Bahia.
Chegando à Bahia, foi para Jeremoabo ajudar seu tio que era o Pe. Magalhães, “o padre que mais lutou pela paz no episódio da guerrilha de Lampião”. Ele conta que seu tio foi um intermediário no “affaire” Lampião – mas o governo central sempre pedia que ele se entregasse . “O julgamento dos criminosos se deu em Jeremoabo e alguns dos condenados ficaram amigos do meu tio”, diz ele.
De Jeremoabo ele foi para a cidade de Glória, mas lá adoeceu e teve que se hospitalizar em Salvador. Um dia seu tio e uma prima vinda de Portugal, Rosa, vieram visitá-lo. Deram um passeio na Praça Municipal e, por acaso Pe. Sadoc, passava por lá. Ele o descreve assim: “Muito bem vestido, de batina preta impecavelmente passada a ferro, chapéu romano, e ele sorridente para todos. Aí minha prima gritou: que padre mais bonito!”. Foi assim seu primeiro encontro com o Pe. Sadoc.
Depois de algum tempo o Bispo de Bonfim, numa visita pastoral, convidou-o para colaborar como secretário da Cúria, e professor no Colégio das Sacramentinas. Quando o Bispo D. Henrique foi nomeado para Botucatu ele deixou Bonfim e veio ensinar no Seminário de Stª Tereza. Passado um ano ele foi nomeado capelão da Soledade e lá o Pe. Sadoc o ajudava nas confissões.
Pe. Pereirinha ficou muito identificado com o trabalho que desenvolveu na Pupileira onde era capelão e lá ficou muito envolvido com o Movimento Carismático. O Bispo auxiliar, D. Tomás Murphy, ajudava-o muito nas confissões e na carismática. Lá também ficou muito próxima dele a Irmã Inês, identificada com esse Movimento. Pereirinha, em toda a sua trajetória sacerdotal, distinguiu-se como “um grande confessor e um devoto emocionado da eucaristia”, conforme atesta Pe. Sadoc.
Por toda essa trajetória, Pereirinha merece um REQUIEM.
Os cardeais D. Eugênio Sales e D. Geraldo Majela (este da Espanha, onde participou da última Conferência Internacional sobre a Família, que contou com a presença do Papa Bento XVI), em ligação telefônica com o Pe. Sadoc, disseram que iriam celebrar uma Missa de Réquiem pelo Pe. Pereirinha.
Que ele descanse em PAZ!
Prof. de Antropologia, na Uneb, na Cairu na Faculdade 2 de Julho. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris. Colaborador das Paróquias da Vitória e de S. Pedro.