Dasilva 9 de julho de 2006

Não se trata de fazer a defesa das satisfações imediatas e até individualistas. É a afirmação de que muda o prisma e a perspectiva que orientam nossa atuação.

Não sofremos neste “vale de lágrimas” para um dia gozar a vida. Não trabalhamos a vida toda para ser feliz, na velhice. Na visão popular a pergunta é: como perpetuar a felicidade que hoje já temos? Como ampliá-la? Porque já se experimenta a vida, a festa, o alimento, a relação humana, então se luta, se organiza uma estratégia, se faz um projeto. Não é o contrário. Os índios, por exemplo, não armazenam, consomem tudo o que coletam, repartem toda a caça. É um exemplo, entre aqueles que não conhecem a lógica (?) da “acumulação” e, por isso, só lutam quando vêem ameaçadas suas fontes de abastecimento ou sua unidade grupal.

Pode-se constatar a busca por espaços de convivência no trabalho, nos bairros, nas igrejas. Cientes dessa tendência, (forte rejeição à situação conflitiva) os empresários reformularam suas estratégias de dominação e, agora, promovem o relacionamento “democrático”, “transparente”, “familiar” e até com “distribuição de rendas”. Com isso, todos (?) continuam irmãos e os donos mais ricos. Não seria esse clima de “relações humanas” que está na base do sucesso das seitas pentecostais, das relações orientais e dos grupos político-religiosos? De qualquer forma, é simplista falar de “fanatismo”, de “imediatismo” de”comodismo”, quando o povo concentra sua atenção na vivência do cotidiano (a festa, a comida, a amizade…), mostrando-se apático frente às denúncias e descrente nos discursos professorais sobre a macroeconomia.

Para o pobre o futuro não é uma tentação e, a experiência de um pássaro na mão, é mais real que a possibilidade de alcançar os dois que estão voando. Isso não diminui a tarefa de ajudar o povo a entender que sem o macro, o cotidiano também não estará garantido. Vai ser um pé em casa e um pé na rua; necessidade de articular a luta pelas soluções cotidianas com a luta geral para mudar, pela raiz, as estruturas de uma sociedade onde não há lugar para a maioria.

junho de 06.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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