Mãe,
Deixa-me beijar a solidão que me restou…
Nada será capaz de amenizar o suor que escorre da alma…
Fui tocado pela cura do tempo…
Já não temo o ar envenenado…
Por que a preocupação com o amanhã?
A vida a bebo sem sede…
E se o mormaço me sufocar saberei contornar o avesso da dor…
Quantas perguntas !
A saudade de não ter conseguido te abraçar
me deixou alucinado!
Já não tenho mais sonhos…
As travessias interrompidas romperam possibilidades…
A margem vislumbrada em fotografias emudeceu …
Carrego no corpo marcas de violência…
Cicatrizes abertas escorrem…
Faces baixas ignoram a ternura de que preciso…
O papelão costurado protege a madrugada e o medo
de não regressar a este pedaço de terra, molhado pelas lágrimas
que não consigo estacionar em teus sentimentos de aparentes contradições…
Mãe,
Há verdades não reveladas…
Há razões desencontradas nesse teu jeito de ser…
Deixa-me aqui caído contemplando o silêncio
e a emoção de poder sobrevoar com asas feridas…