Paulo Rebêlo 3 de abril de 2011

(www.rebelo.org)

Nunca sei até onde vale a pena conhecer pessoas interessantes. Fico sempre no limite entre o interesse e o arrependimento.

Porque elas sempre vão conseguir (mesmo sem querer) fazer com que você queira conversar mais, saber mais, olhar mais, admirar mais.

Problema é que o nosso querer “mais” pode gerar duzentas interpretações diferentes. E aí corremos o risco de perder uma grande amizade ou uma grande paixão por causa de uma má interpretação.

Começamos a nos contentar com menos. Cada vez menos.

E menos tempo ao lado dessas pessoas significa menos histórias para conhecer, menos experiências para compartilhar, menos cafés para tomar, menos restaurantes para escolher, menos lugares para visitar e bem menos cervejas e copos de uísque para esquentar toda essa frieza da cidade grande.

É difícil reconhecer quando somos nós com medo de dar um passo adiante ou quando são elas com medo de permitir esse passo.

Veja como é curioso: em geral, por causa de frustrações passadas e nem sempre devidamente enterradas, às vezes basta um elogio mais efusivo ou um abraço mais apertado para transformar duas pessoas inteligentes em dois bobinhos prontos para fugir.

Uma das (poucas) desvantagens de conhecer muita gente e andar por muitos lugares é que você começa a achar que as pessoas interessantes estão sempre de passagem.

É uma espécie de proporcionalidade humana. Às vezes são três dias, três meses ou três anos. Às vezes são três horas até o avião decolar.

No meio da multidão de formigas (e toupeiras) humanas que você encontra diariamente, a proporcionalidade lhe ensina que não se deve deixar uma pessoa assim ir embora tão fácil.

Mas elas sempre se vão. Nem sempre porque deixamos. Às vezes voltam. Às vezes desaparecem como se nunca tivessem existido.

Só o interesse da gente que permanece.

Obs: Imagem do autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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