Djanira Silva 1 de novembro de 2021

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Embarco dentro da alma nos suspiros da ventania.O corpo se abate nos sonhos.  O mundo soluça. Será este meu derradeiro sonho? Será?

 Amargo o desespero de sentimentos que correm como água ou sangue e escrevem histórias de faz de contas. Histórias que inventam outras histórias,  da Carocinha, da Arca de Noé, da traição de Abel, das Tábuas da Lei. Invenções que obrigam o homem a andar para trás sem ensinar como.
Escrevo e esqueço a ordem do alfabeto. Os pensamentos se misturam em ondas de agonia.

Chaves trocadas. Portas invisíveis

Voltarei. Será este meu derradeiro arrependimento. Voltarei   para dores que não conheço, para caminhos que não tracei para histórias que não escrevi. Minha primeira derrota será sobre meus passos, contradição por onde ando desde que comecei a nascer.

Saudade, saudade de um tempo escrito  sem seqüência, nem coerência. Ando sobre as linhas tortas de um eletrocardiograma que   dança a dança das horas, da morte, do tempo, do medo. Toques macabros monitorados pelas cordas desafinadas de uma viola que ameaça parar, de um samba que desce  ladeiras nos pés de vento, de sonatas perdidas nas traições e paixões de amores desencantados por pitonisas envenenadas pelo olhar de medusa.

Desembarco fora da alma.

Ventos já não sopram. O sangue estancou no caminho da volta. Descanso na ilusão da calmaria.

Em cada folha caída o orvalho reflete uma cópia de mim.

Obs: A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999 
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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